Os debates intensificados e muitos vezes rasos sobre a atual crise política no país fazem muitos refletirem sobre a Educação. Uma Educação libertadora que permita ao cidadão refletir e ter opinião própria sobre vários aspectos da vida, sem virar “refém” da mídia, que já tem o seu lado.
Para
o nosso entrevistado isso é possível com uma escola que ensine aos
seus alunos que
as
diferenças
e divergências
de opiniões são
naturais em uma democracia. “O
trabalho educativo tem que trazer essa consciência
política, de modo que a política não seja entendida apenas como a
via institucional e partidária. Política é o compromisso de cada
cidadão pelo bem da sociedade”, reflete.
Em
sua sala, um quadro do filósofo e educador Paulo Freire revela de
onde busca inspiração para fazer uma Educação diferenciada e
progressista em Jundiaí.
Há
um ano à frente da Secretaria de Educação, José Renato Polli
acumula várias mudanças que apontam para esse sentido, colocou em
prática um programa pedagógico, que permite a participação de
educadores e da comunidade, na construção de políticas públicas.
Todo
esse acúmulo e a visão humanista sobre a Educação vem da sua
vasta experiência na área, mas também de quase 30 anos de
militância na esquerda. Embora esteja no PCdoB há pouco tempo tem
contribuído muito para deixar a marca do PCdoB na Secretaria. “O
PCdoB é um dos sustentáculos do governo, o desafio é ajudar a
construir uma política de governo com a perspectiva progressista.
Acredito que o PCdoB tem feito isso muito bem”.
Confira
abaixo a entrevista com o Secretário:
Como
encarou o desafio de ser o Secretário de Educação de Jundiaí?
Polli– Fiquei muito feliz pelo reconhecimento e pela oportunidade de
desenvolver um projeto diferenciado com base nas minhas crenças
pessoais e do coletivo da educação que acredita em uma educação
mais progressistas, e no meu ponto de vista, neste último ano,
conseguimos dar esse rumo para a proposta pedagógica, um dos nossos
focos nesse período.
Estou
na educação há mais de 30 anos e estou desde o começo da gestão
na Secretaria de Educação, então assumir a Secretaria foi também
decorrência do meu trabalho na área, um desafio muito grande que
assumi junto com minha equipe e acredito que estamos avançando
muito.
Quais
foram as principais mudanças estabelecidas com a sua chegada à
Secretaria?
Polli– Enumero
em três frentes em processo de implantação na rede. A primeira é
de ordem física e material, a
manutenção das escolas da rede, trabalhos de
reformas, ampliação, manutenção, construção de salas,
coberturas de quadras, entre outros. Embora muitas ações tenham
sido realizadas temos muito trabalho pela frente, pois é uma rede
grande, mas aos poucos pretendemos atender toda a demanda.
Outra
frente é o projeto pedagógico, colocamos em prática alguns
projetos estratégicos como a elaboração das diretrizes
curriculares, diretrizes pedagógicas, preparação de um Fórum de
Educação para começar o debate de ideias sobre a área e a
transformação do Conselho Municipal de Educação em um Conselho
deliberativo.
Houve
também a criação de
seis núcleos pedagógicos na rede, alguns
eram supervisões específicas e se tornaram núcleos,
a
exemplo do que existe em cidades como São
Paulo. São os
núcleos educacionais de Educação e Cultura Corporal, de
Educação e Língua
Estrangeira, de Educação
Sociocomunitária, de Educação Socioambiental,
Arte Cultura e Educação e
Centro de Imaginação Moinhos de Vento.
Esses
novos projetos demonstram uma maior aproximação da Secretaria com
os profissionais da educação. Esse é o intuito?
Polli– Com
certeza todo o nosso processo pedagógico está sendo construído
sobre esse viés. Os núcleos tem entre seus objetivos dar autonomia
para as unidades escolares desenvolverem projetos dentro da realidade
de cada localidade.
Eu
visitei aproximadamente metade da rede para conhecer a estrutura das
escolas, os profissionais, alunos, o ambiente e ver as necessidades;
isso foi muito importante nos aproxima da realidade de cada escola,
agora pretendo continuar as visitas nas outras unidades.
Também
tivemos importantes avanços com relação aos direitos trabalhistas
nos primeiros anos da gestão como reajustes para as categorias, a
implantação da lei que obriga o cumprimento de um terço da jornada
em horas de formação. Hoje o professor tem o direito de das 30
horas semanais de trabalho, cumprir 20 em sala de aula e aproveitar
10 horas em sua formação, com 5 horas em local de livre escolha e 5
nas formações específicas da secretaria. Também houve a
contratação de novos profissionais por meio de concursos públicos.
O
reconhecimento salarial do profissional e a autonomia para ajudar na
construção do processo pedagógico contribui muito para melhorar,
cada vez, a educação no município.
Nesse
processo de maior participação dos profissionais da educação,
houve também mudanças na diretoria de alimentação escolar.
Poderia nos explicar sobre essa mudança?
Polli– Eu
destaquei a Roseli Regina Gomes da Silva
para gestora
da área com a ideia de ressignificar o trabalho de
alimentação escolar vinculado ao processo pedagógico.
Inclusive
nas visitas
às escolas conheci projetos já desenvolvidos pelos educadores e
cozinheiras. Fiquei muito satisfeito, pois é esse o nosso propósito.
Conseguimos melhorar a condição de trabalho das cozinheiras e
cozinheiros, além de
estudos para parcerias para aprimorar o trabalho nesta área.
Com
relação a interface com outras pastas da secretaria houve um grande
avanço entre a Secretaria de Educação e Coordenadoria dos Direitos
das Pessoas com Deficiência. Vocês criaram a diretoria inclusiva,
quais foram os avanços até então?
Polli– Quando
assumi como secretário transformamos
a supervisão de educação inclusiva em uma diretoria e trouxemos a
professora universitária
e psicóloga Samanta
Palmieri, que
possui uma vasta experiência e já havia trabalho em diversas
entidades da cidade.
A
demanda aumentou na rede pelo fato de termos criado a diretoria, as
pessoas começaram a procurar esse direito, dobramos o número de
crianças que estão sendo assistidas na rede.
Conseguimos
consolidar a contratação de uma empresa que presta serviços com
cuidadores especializados para crianças com deficiências que possuem o direito desse acompanhamento.
Aos
poucos estamos planejando a expansão desta diretoria e pretendemos
consolidar o atendimento para todas as crianças. Também houve
avanços no transporte das crianças às escolas.
A
parceria com a Coordenadoria dos Diretos das Pessoas com Deficiência
foi fundamental para esses avanços, já que a política pública vai
sendo construída por meio do compromisso de todos os envolvidos.
A
reformulação do programa Educação de Jovens e Adultos e a vinda
do Instituto Federal também são marcas dessa gestão. Nos conte um
pouco sobre esses avanços.
Polli– A Educação de Jovens e
Adultos (EJA) passou por uma reestruturação administrativa e
pedagógica, o que resultou uma diminuição significativa do número
de analfabetos na cidade.
Agora
a maior parte das aulas são presenciais, instituímos também
modalidades de ensino profissionalizante conjuntamente ao ensino
fundamental e descentralizamos as aulas. Essas mudanças qualificaram
o processo e a procura aumento muito, tanto do ensino fundamental
como do médio.
Juntamente
com este trabalho tivemos a implantação do campus avançado do
Instituto Federal em Jundiaí, com cursos técnicos gratuitos de
comércio e informática a distância. O objetivo é conquistar
recursos para a construção de um campus pleno, já temos o terreno,
assim poderemos ofertar cursos superiores.
Qual
é o principal desafio da Secretaria de Educação?
Polli– São
muitos desafios, mas pela extensão social do problema, as vagas em
creches são um desafio muito grande. Pelo nosso compromisso com as
crianças e as famílias, estamos enfrentando este problema, inclusive
temos dados que apontam alta taxa de nascimentos na cidade, o que
aumenta nossa responsabilidade no planejamento das ações para
atender a todos.
Quando
assumimos haviam
2.600 crianças na fila de
espera, chegamos a criar
mais de três
mil vagas nesses três anos, ampliamos
os convênios com escolas particulares, criamos novas salas de aulas,
construímos uma nova
creche e outra está em construção, ações que reduziram em 40% do
número inicial de crianças na fila.
Porém,
nosso maior desafio é diminuir ainda mais essa fila, uma demanda que
requer muito esforço, um trabalho social amplo e recursos para a
construção de novas unidades. Estamos empenhados nisso.
Como
é
uma demanda social antiga e em expansão, as soluções dependem de
vários fatores. Não basta planejar esta expansão isoladamente, ela
tem que ser pensada na interface com outras políticas públicas de
trabalho e renda, moradia, saúde, etc.
Percebemos
uma secretaria com uma visão muito humanizada, seja na atenção
dada aos professores, alunos pais e profissionais. Isso é um pouco
da sua vivência política da esquerda.
Polli– Não tenho dúvida, o pensamento de esquerda é um pensamento
humanista embora existiam pessoas da própria esquerda que acham que
não, que humanismo é um braço do conservadorismo, na minha opinião
não. Apesar de estarmos num
momento de revisão e redefinição do papel da esquerda, creio que o
humanismo é sua marca.
Essa
visão humanista supõe que o cidadão deve participar das decisões,
estou me referindo ao diálogo. Precisamos valorizar todas as
experiências e conhecer a realidade das pessoas para pensar em
projetos e programas que atenderão às suas necessidades.
Estabelecer o diálogo é um processo em construção e trabalhoso.
O
diálogo não é uma coisa dada, muitas pessoas entendem que dialogar
é só fazer reivindicações e não é, já que há diferentes
necessidades de diferentes atores sociais. Eu particularmente acho
que simplesmente reunir as pessoas não é o único meio de
estabelecer o diálogo, temos outros meios como, por exemplo, essas
visitas às escolas são uma forma de estabelecer o diálogo.
Mas
estamos conversando muito para permitir essa construção, atendi
várias comissões junto com o sindicato para tratar de assuntos da
categoria, sempre estou aberto ao diálogo.
Como
a educação pode contribuir com essa nova geração de crianças e
adolescentes nesse momento tão conturbado na nossa história
política, econômica?
Polli– A escola tem uma tarefa fundamental que é mostrar para as
crianças que as divergências e diferenças de olhares e percepções
sobre social, a política, a econômica e todas as dimensões de
nossa existência são naturais.
As
diferenças não podem se tornar um campo de batalha, temos que
valorizar o que Paulo Freire chamava de processo de conscientização.
Conscientização não é apenas tomar consciência da realidade, mas
agir sobre ela. Todos temos que, com a tranquilidade que a democracia
envolve, quando as diferenças não são movidas por motivos torpes,
considerar a vida social e pessoal como algo bom para todos.
Vi
em uma postagem de um amigo meu, que crianças tem brigado nas
escolas por conta da cor da camisa ou porque a outra está comendo
coxinha. A situação em vez de ser apontada como problema é uma
oportunidade educacional de mostrar que na democracia as diferenças
de opiniões fazem parte do processo.
A
escola tem papel determinante no debate de ideias, comparação de
situações de fatos, para que os alunos tenham sua própria
percepção e não se deixem influenciar pela mídia, que já tem sua
percepção pronta dos fatos.
O
trabalho educativo tem que trazer essa consciência política, de
modo que a política não seja entendida apenas como a via
institucional partidária. Política é o compromisso de cada cidadão
pelo bem da sociedade.
Como
você avalia a participação do PCdoB na gestão pública?
Polli– Estou
bastante satisfeito com a atuação do partido no governo e tenho
certeza que terá papel fundamental nas próximas eleições, por
todo o trabalho realizado nas pastas comandadas pelos seus
militantes. O partido está forte, tenho acompanhado as filiações,
os debates.
Defendo
a continuidade do apoio ao prefeito Pedro Bigardi. Apoiar
o projeto do governo, que contempla a atuação de outras forças,
porque acredito que continuaremos a ter participação
destacada.
O
PCdoB é um dos sustentáculos do governo, o desafio é ajudar a
construir uma política de governo com a perspectiva progressista.
Acredito que o PCdoB tem feito isso muito bem.
Na
Secretaria de Educação temos quatro “cabeças pensantes” que
são do PCdoB eu, o professor Marcel, o professor Adriano e a
diretora Roseli, quatro militantes do partido que se esforçam muito
para imprimir essa marca do PCdoB na gestão.
Minha
história na esquerda começou há 27 anos e recentemente me filiei
ao PCdoB. Estou ainda em fase de adaptação no partido, mais
observando e aprendendo. Parabenizo a coerência do partido, que
mesmo com muitas dificuldades não parou. Creio que seja uma força
política fundamental na cidade hoje.
Texto e fotos: Eliane Silva Pinto
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