segunda-feira, 25 de abril de 2016

PCdoB ADOTA POLÍTICA EDUCACIONAL INOVADORA NA PREFEITURA DE JUNDIAÍ


Os debates intensificados e muitos vezes rasos sobre a atual crise política no país fazem muitos refletirem sobre a Educação. Uma Educação libertadora que permita ao cidadão refletir e ter opinião própria sobre vários aspectos da vida, sem virar “refém” da mídia, que já tem o seu lado.

Para o nosso entrevistado isso é possível com uma escola que ensine aos seus alunos que as diferenças e divergências de opiniões são naturais em uma democracia. O trabalho educativo tem que trazer essa consciência política, de modo que a política não seja entendida apenas como a via institucional e partidária. Política é o compromisso de cada cidadão pelo bem da sociedade”, reflete.

Em sua sala, um quadro do filósofo e educador Paulo Freire revela de onde busca inspiração para fazer uma Educação diferenciada e progressista em Jundiaí.

Há um ano à frente da Secretaria de Educação, José Renato Polli acumula várias mudanças que apontam para esse sentido, colocou em prática um programa pedagógico, que permite a participação de educadores e da comunidade, na construção de políticas públicas.

Todo esse acúmulo e a visão humanista sobre a Educação vem da sua vasta experiência na área, mas também de quase 30 anos de militância na esquerda. Embora esteja no PCdoB há pouco tempo tem contribuído muito para deixar a marca do PCdoB na Secretaria. “O PCdoB é um dos sustentáculos do governo, o desafio é ajudar a construir uma política de governo com a perspectiva progressista. Acredito que o PCdoB tem feito isso muito bem”.

Confira abaixo a entrevista com o Secretário:

Como encarou o desafio de ser o Secretário de Educação de Jundiaí?

Polli– Fiquei muito feliz pelo reconhecimento e pela oportunidade de desenvolver um projeto diferenciado com base nas minhas crenças pessoais e do coletivo da educação que acredita em uma educação mais progressistas, e no meu ponto de vista, neste último ano, conseguimos dar esse rumo para a proposta pedagógica, um dos nossos focos nesse período.

Estou na educação há mais de 30 anos e estou desde o começo da gestão na Secretaria de Educação, então assumir a Secretaria foi também decorrência do meu trabalho na área, um desafio muito grande que assumi junto com minha equipe e acredito que estamos avançando muito.

Quais foram as principais mudanças estabelecidas com a sua chegada à Secretaria?

PolliEnumero em três frentes em processo de implantação na rede. A primeira é de ordem física e material, a manutenção das escolas da rede, trabalhos de reformas, ampliação, manutenção, construção de salas, coberturas de quadras, entre outros. Embora muitas ações tenham sido realizadas temos muito trabalho pela frente, pois é uma rede grande, mas aos poucos pretendemos atender toda a demanda.

Outra frente é o projeto pedagógico, colocamos em prática alguns projetos estratégicos como a elaboração das diretrizes curriculares, diretrizes pedagógicas, preparação de um Fórum de Educação para começar o debate de ideias sobre a área e a transformação do Conselho Municipal de Educação em um Conselho deliberativo.

Houve também a criação de seis núcleos pedagógicos na rede, alguns eram supervisões específicas e se tornaram núcleos, a exemplo do que existe em cidades como São Paulo. São os núcleos educacionais de Educação e Cultura Corporal, de Educação e Língua Estrangeira, de Educação Sociocomunitária, de Educação Socioambiental, Arte Cultura e Educação e Centro de Imaginação Moinhos de Vento.

Esses novos projetos demonstram uma maior aproximação da Secretaria com os profissionais da educação. Esse é o intuito?

PolliCom certeza todo o nosso processo pedagógico está sendo construído sobre esse viés. Os núcleos tem entre seus objetivos dar autonomia para as unidades escolares desenvolverem projetos dentro da realidade de cada localidade.

Eu visitei aproximadamente metade da rede para conhecer a estrutura das escolas, os profissionais, alunos, o ambiente e ver as necessidades; isso foi muito importante nos aproxima da realidade de cada escola, agora pretendo continuar as visitas nas outras unidades.

Também tivemos importantes avanços com relação aos direitos trabalhistas nos primeiros anos da gestão como reajustes para as categorias, a implantação da lei que obriga o cumprimento de um terço da jornada em horas de formação. Hoje o professor tem o direito de das 30 horas semanais de trabalho, cumprir 20 em sala de aula e aproveitar 10 horas em sua formação, com 5 horas em local de livre escolha e 5 nas formações específicas da secretaria. Também houve a contratação de novos profissionais por meio de concursos públicos.

O reconhecimento salarial do profissional e a autonomia para ajudar na construção do processo pedagógico contribui muito para melhorar, cada vez, a educação no município.


Nesse processo de maior participação dos profissionais da educação, houve também mudanças na diretoria de alimentação escolar. Poderia nos explicar sobre essa mudança?

PolliEu destaquei a Roseli Regina Gomes da Silva para gestora da área com a ideia de ressignificar o trabalho de alimentação escolar vinculado ao processo pedagógico.

Inclusive nas visitas às escolas conheci projetos já desenvolvidos pelos educadores e cozinheiras. Fiquei muito satisfeito, pois é esse o nosso propósito. Conseguimos melhorar a condição de trabalho das cozinheiras e cozinheiros, além de estudos para parcerias para aprimorar o trabalho nesta área.

Com relação a interface com outras pastas da secretaria houve um grande avanço entre a Secretaria de Educação e Coordenadoria dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Vocês criaram a diretoria inclusiva, quais foram os avanços até então?

Polli– Quando assumi como secretário transformamos a supervisão de educação inclusiva em uma diretoria e trouxemos a professora universitária e psicóloga Samanta Palmieri, que possui uma vasta experiência e já havia trabalho em diversas entidades da cidade.

A demanda aumentou na rede pelo fato de termos criado a diretoria, as pessoas começaram a procurar esse direito, dobramos o número de crianças que estão sendo assistidas na rede.

Conseguimos consolidar a contratação de uma empresa que presta serviços com cuidadores especializados para crianças com deficiências que possuem o direito desse acompanhamento.

Aos poucos estamos planejando a expansão desta diretoria e pretendemos consolidar o atendimento para todas as crianças. Também houve avanços no transporte das crianças às escolas.

A parceria com a Coordenadoria dos Diretos das Pessoas com Deficiência foi fundamental para esses avanços, já que a política pública vai sendo construída por meio do compromisso de todos os envolvidos.

A reformulação do programa Educação de Jovens e Adultos e a vinda do Instituto Federal também são marcas dessa gestão. Nos conte um pouco sobre esses avanços.

Polli– A Educação de Jovens e Adultos (EJA) passou por uma reestruturação administrativa e pedagógica, o que resultou uma diminuição significativa do número de analfabetos na cidade.

Agora a maior parte das aulas são presenciais, instituímos também modalidades de ensino profissionalizante conjuntamente ao ensino fundamental e descentralizamos as aulas. Essas mudanças qualificaram o processo e a procura aumento muito, tanto do ensino fundamental como do médio.

Juntamente com este trabalho tivemos a implantação do campus avançado do Instituto Federal em Jundiaí, com cursos técnicos gratuitos de comércio e informática a distância. O objetivo é conquistar recursos para a construção de um campus pleno, já temos o terreno, assim poderemos ofertar cursos superiores.

Qual é o principal desafio da Secretaria de Educação?

PolliSão muitos desafios, mas pela extensão social do problema, as vagas em creches são um desafio muito grande. Pelo nosso compromisso com as crianças e as famílias, estamos enfrentando este problema, inclusive temos dados que apontam alta taxa de nascimentos na cidade, o que aumenta nossa responsabilidade no planejamento das ações para atender a todos.

Quando assumimos haviam 2.600 crianças na fila de espera, chegamos a criar mais de três mil vagas nesses três anos, ampliamos os convênios com escolas particulares, criamos novas salas de aulas, construímos uma nova creche e outra está em construção, ações que reduziram em 40% do número inicial de crianças na fila.

Porém, nosso maior desafio é diminuir ainda mais essa fila, uma demanda que requer muito esforço, um trabalho social amplo e recursos para a construção de novas unidades. Estamos empenhados nisso.

Como é uma demanda social antiga e em expansão, as soluções dependem de vários fatores. Não basta planejar esta expansão isoladamente, ela tem que ser pensada na interface com outras políticas públicas de trabalho e renda, moradia, saúde, etc.


Percebemos uma secretaria com uma visão muito humanizada, seja na atenção dada aos professores, alunos pais e profissionais. Isso é um pouco da sua vivência política da esquerda.

PolliNão tenho dúvida, o pensamento de esquerda é um pensamento humanista embora existiam pessoas da própria esquerda que acham que não, que humanismo é um braço do conservadorismo, na minha opinião não. Apesar de estarmos num momento de revisão e redefinição do papel da esquerda, creio que o humanismo é sua marca.

Essa visão humanista supõe que o cidadão deve participar das decisões, estou me referindo ao diálogo. Precisamos valorizar todas as experiências e conhecer a realidade das pessoas para pensar em projetos e programas que atenderão às suas necessidades. Estabelecer o diálogo é um processo em construção e trabalhoso.

O diálogo não é uma coisa dada, muitas pessoas entendem que dialogar é só fazer reivindicações e não é, já que há diferentes necessidades de diferentes atores sociais. Eu particularmente acho que simplesmente reunir as pessoas não é o único meio de estabelecer o diálogo, temos outros meios como, por exemplo, essas visitas às escolas são uma forma de estabelecer o diálogo.

Mas estamos conversando muito para permitir essa construção, atendi várias comissões junto com o sindicato para tratar de assuntos da categoria, sempre estou aberto ao diálogo.

Como a educação pode contribuir com essa nova geração de crianças e adolescentes nesse momento tão conturbado na nossa história política, econômica?

Polli A escola tem uma tarefa fundamental que é mostrar para as crianças que as divergências e diferenças de olhares e percepções sobre social, a política, a econômica e todas as dimensões de nossa existência são naturais.

As diferenças não podem se tornar um campo de batalha, temos que valorizar o que Paulo Freire chamava de processo de conscientização. Conscientização não é apenas tomar consciência da realidade, mas agir sobre ela. Todos temos que, com a tranquilidade que a democracia envolve, quando as diferenças não são movidas por motivos torpes, considerar a vida social e pessoal como algo bom para todos.

Vi em uma postagem de um amigo meu, que crianças tem brigado nas escolas por conta da cor da camisa ou porque a outra está comendo coxinha. A situação em vez de ser apontada como problema é uma oportunidade educacional de mostrar que na democracia as diferenças de opiniões fazem parte do processo.

A escola tem papel determinante no debate de ideias, comparação de situações de fatos, para que os alunos tenham sua própria percepção e não se deixem influenciar pela mídia, que já tem sua percepção pronta dos fatos.

O trabalho educativo tem que trazer essa consciência política, de modo que a política não seja entendida apenas como a via institucional partidária. Política é o compromisso de cada cidadão pelo bem da sociedade.

Como você avalia a participação do PCdoB na gestão pública?

PolliEstou bastante satisfeito com a atuação do partido no governo e tenho certeza que terá papel fundamental nas próximas eleições, por todo o trabalho realizado nas pastas comandadas pelos seus militantes. O partido está forte, tenho acompanhado as filiações, os debates.

Defendo a continuidade do apoio ao prefeito Pedro Bigardi. Apoiar o projeto do governo, que contempla a atuação de outras forças, porque acredito que continuaremos a ter participação destacada.

O PCdoB é um dos sustentáculos do governo, o desafio é ajudar a construir uma política de governo com a perspectiva progressista. Acredito que o PCdoB tem feito isso muito bem.

Na Secretaria de Educação temos quatro “cabeças pensantes” que são do PCdoB eu, o professor Marcel, o professor Adriano e a diretora Roseli, quatro militantes do partido que se esforçam muito para imprimir essa marca do PCdoB na gestão.

Minha história na esquerda começou há 27 anos e recentemente me filiei ao PCdoB. Estou ainda em fase de adaptação no partido, mais observando e aprendendo. Parabenizo a coerência do partido, que mesmo com muitas dificuldades não parou. Creio que seja uma força política fundamental na cidade hoje.


Texto e fotos: Eliane Silva Pinto

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