Ao
adentrar a porta de um dos prédios tombados pelo Condephaat no
Complexo Fepasa, um aparelho de som ligado com músicas jovens
dá
boas vindas aos visitantes, ao olhar ao redor vários desenhos e
grafites dão um ar ainda mais jovial ao espaço. Na outra sala
bancos feitos com pallets cercado por uma decoração despojada, e de
muito bom gosto, é um convite para um bom bate papo.
Ao
subir para o segundo andar do prédio um mural de fotos “denuncia”
os responsáveis por tudo isso, são quatro jovens com muitas ideias
na cabeça e também muita atitude. O local visitado é o Estação
Juventude que materializou um sonho dessa turma, oferecer
oportunidades à juventude de Jundiaí.
Coordenado
por Narrinam Camargo (Nana), o Estação Juventude é fruto de muito
trabalho da Coordenadoria de Juventude existente há três anos na
cidade. Com Nana trabalham os competentes e dinâmicos Daniel Lemos,
Thiago Santos e Willian Sanches, essa turma vem fazendo a diferença
para a juventude da cidade.
Confira
a entrevista abaixo a entrevista com Nana sobre o trabalho realizado.
“A UJS e o PCdoB me deram a
ternura necessária pra me sensibilizar com as contradições do
mundo, mas também o pragmatismo para não ficar apenas
sentada vendo a vida passar, me deu a vontade de lutar sempre, onde
quer que eu esteja”.
Nana e Daniel |
Jundiaí
até esse governo não tinha uma Coordenadoria da Juventude, como foi
para você essa experiência de começar essa Coordenadoria a partir
do zero?
Nana-
Foi uma experiência muito interessante entrei muito nova, tinha
acabado de completar 18 anos, estava aprendendo sobre tudo, não
tínhamos um modelo a seguir, Jundiaí teve algumas experiências com
projetos para a juventude mas nada que conseguisse mobilizar, nada
que fosse uma política construída, então de fato começamos do
zero.
Nossa
maior dificuldade foi entender como funcionava a máquina pública, o
acúmulo político, graças ao partido e a formação dentro da UJS,
eu já tinha, eu sabia o que era necessário de ser feito, a grande
dificuldade foi entender como se fazia dentro da administração
pública, que tem um tempo muito diferente, muito distante da
realidade do que precisa ser feito na prática, então acho que o
choque de aprender a lidar com a máquina pública foi o maior
desafio.
As
dificuldades fizeram com que eu aprendesse muito, quando
tivemos problemas de orçamento, por exemplo, lutamos por recursos e
hoje temos um convênio com o Governo Federal, que é o programa
Estação Juventude e um novo convênio com o Governo Estadual que
vai começar agora dentro das escolas estaduais, além disso tivemos
inúmeras parcerias com a iniciativa privada.
Acho
que fizemos uma gestão inteligente, conseguimos criar alternativas
para a burocracia e as limitações, sem se afastar do que era
importante de ser feito.
Qual
a sua avaliação sobre esses três anos da Coordenadoria?
Nana-
O maior avanço desses três anos acredito eu que foi a aproximação
com a juventude, eu entendi que para conseguir fazer as coisas
precisávamos ter do lado a juventude, a partir disso começamos a
pautar a política com base no que eles diziam.
Desde
2013 quando a Coordenadoria foi criada fizemos duas grandes
conferências municipais, a primeira com cerca de 200 jovens e a do
ano passado com mais de 500 jovens, um marco na gestão, com a
participação de jovens de várias regiões da cidade, conseguimos
colocar em prática tudo o que a gente defende na teoria no que diz
respeito a participação do jovem na gestão pública.
Temos
mecanismos de diálogo permanente com o jovem, seja no Estação
Juventude, no Conselho de Juventude, nos grandes encontros como Plano
Diretor Participativo, Plano de Segurança Pública, uma série de
projetos que a gente garantiu a participação do jovem, ente outras.
Todas
as atividades serviram para que o jovem entendesse que estamos aqui
para dialogar mesmo, que não era só para encher o auditório quando
fosse interessante ou para falar com eles de quatro em quatro anos.
O
Estação Juventude completou 1 ano dia 4 de abril, sem dúvida uma
grande conquista. Quais são os resultados que você pode enumerar
desde a criação do Estação?
Nana-
O Estação Juventude é a concretização de tudo o que a gente
discute, já tivemos mais de 100 atividades, mais de 5 mil jovens
passaram por aqui, realizamos ações nos bairros, criamos relação
com associações de bairros, coletivos culturais, grêmios
estudantis.
Além
das várias oficinas oferecidas, o Estação Juventude também
funciona como um espaço de convivência e uma porta de entrada do
jovem para o serviço público, oferecemos um cardápio de
oportunidades. Aqui no Estação, o jovem consegue ter acesso à
informação sobre todos os projetos da iniciativa pública.
Maior
objetivo do Estação Juventude é ajudar o processo de construção
do futuro do jovem, no Estação ele pode ter contato com uma série
de oficinas de temas diferentes, música, dança, gastronomia, moda e
de repente se identificar com algo. É uma satisfação imensa saber
que o Estação contribuiu e continuará contribuindo para a
autonomia do jovem. Temos jovens que entraram na faculdade e
conseguiram seu primeiro emprego, graças ao Estação.
Tanto
a Coordenadoria e o Estação Juventude são comandadas por jovens,
então passa a ser uma realização pessoal também. Como é isso
para você?
Nana-
A política se torna mais humana quando ela é pessoal, talvez seja
um pouco isso que falta, empatia. Eu sou jovem, fui estudante de
escola publica não tive uma vida privilegiada, sou de uma família
normal, com todas as suas dificuldades e alegrias.
Tive
que remar muito contra a maré para continuar na militância, na
época não se discutia isso, na época o jovem tinha que estudar e
no máximo trabalhar, não tinha que se envolver com a política
porque a cidade não tinha essa cultura.
Para
mim hoje é uma realização pessoal saber que podemos ofertar para
esses jovens coisas que não tivemos, seja um cursinho
pré-vestibular, tivemos informação agora no final de ano de jovens
que conseguiram entrar em faculdades públicas, graças ao cursinho
que fizeram aqui.
Eu
me lembro que na minha época de escola eu não tinha condições de
pagar para fazer um cursinho pré-vestibular e as iniciativas que
tinham eram muito tímidas, e hoje poder ofertar isso gratuitamente
para os jovens, sim, é uma realização pessoal também. Ver que
hoje vivemos em uma cidade com muitas iniciativas estudantis,
culturais e políticas, ver que o hoje o jovem tem mais liberdade de
expressão e condição de se impor como sujeito de direitos na
sociedade, é maravilhoso.
Dias
atrás, um amigo meu me disse que foi visitar uma Escola Estadual e
uma menina que me conheceu no ano passado, durante uma visita minha a
escola, disse a ele que queria ser igual a mim (coordenadora de
juventude) quando crescesse, isso me tocou muito. Percebi que mesmo
em uma escala pequena, minhas ações influenciam muitos jovens
direta e indiretamente. Hoje me esforço para ser exemplo na vida
pública e na privada.
Como
sua formação política ajuda na condução da Coordenadoria?
Nana-
Minha consciência política e cidadã vêm da minha vivência dentro
do partido, fui da UJS em uma época que não se tinha espaço de
diálogo então eu sei como é ruim para um jovem adolescente que só
tem sonho na mochila ver isso ser cerceado por uma administração
pública tirana que não dialogava, graças a essa vivência eu sei o
que eu não posso fazer e o que precisa ser feito urgentemente.
A
UJS e o PCdoB me deram a ternura necessária pra me sensibilizar com
as contradições do mundo, mas também o pragmatismo para não ficar
apenas sentada vendo a vida passar, me deu a vontade de lutar sempre,
onde quer que eu esteja.
A
institucionalização das políticas públicas também é algo novo
tanto para a UJS como para o PCdoB e vocês com todo o esforço na
Coordenadoria acabaram virando referência para muitas cidades. Como
você analisa isso?
Nana-
Cada cidade tem suas características e estamos muito longe de
ser o ideal, fizemos o que era mais importante e urgente, mas é
muito gratificante poder trocar experiências, aliás
precisamos, cada vez mais, disso para conseguirmos ocupar cada vez
mais espaços.
A
UJS (União da Juventude Socialista) e o PCdoB não pode ser só
visto como as pessoas que mobilizam, mas sim pessoas que sentam na
mesa para discutir e colocam as coisas em prática. Avalio isso
como um grande desafio para nós, conseguir institucionalizar tudo o
que defendemos na rua e temos ótimos quadros para isso.
A
partir da nossa experiência aqui eu comecei a doar parte do meu
tempo a compartilhar com os nossos camaradas essas iniciativas, então
a gente teve a honra de contribuir na estruturação da coordenadoria
de Osasco, que o querido camarada Diego Nogueira assumiu, já
recebemos a visita de diversas cidades do Estado de São Paulo e
também de outros Estados como do Maranhão, Minas Gerais e Rio de
Janeiro.
Me
sinto muito feliz em conhecer essas pessoas fantásticas e poder
contribuir, nem que for um pouquinho, com essas iniciativas para
ajudar a nossa juventude.
O
PCdoB tem uma forte militância na juventude como é a relação da
Coordenadoria com esses movimentos sociais?
Nana-
Por ter vindo do movimento estudantil eu entendo a importância
do movimento social organizado, quem conversa todos os dias com a
juventude é o movimento social, o governo tem a função de receber
todas as reivindicações e trabalhar em cima delas, não dá para se
discutir participação da sociedade civil na gestão pública sem o
empoderamento desses movimentos sociais.
Nós
já construímos muita coisa em comum, temos forte ligação com os
movimentos estudantis aqui da cidade, da Fatec, do Uniancheita
participamos desses processos, incentivamos a criação de grêmios
estudantis dentro das escolas todo o ano, participamos da
reconstrução da UJES (União Jundiaiense dos Estudantes
Secundaristas) e apoiamos diversos coletivos de cultura novos, que
tem balançado a cidade.
O
que vocês pretendem lutar para conseguir nesse ano?
Nana-
Em ano de processo eleitoral nosso maior desafio é garantir que
independente dos resultados das urnas o trabalho não pare, eu acho
que fomos muito exitosos no que construímos até aqui, ainda há
muito mais para construir.
Hoje
estamos reestruturando a lei do Conselho da Juventude, teremos uma
nova programação de oficinas do Estação, será lançado um Edital
onde vamos escolher 12 oficinas, além de parcerias importantes, são
muitas coisas acontecendo não pode haver retrocesso e sim a
ampliação dos serviços. Caso aconteça uma mudança a gente
consiga fazer uma transição pacifica que não prejudique o que foi
construído até agora.
Como
você avalia o PCdoB na Prefeitura de Jundiaí?
Nana-
Eu estou no PCdoB há muito tempo e tive a oportunidade de
acompanhar a construção o projeto para conquistar a prefeitura e a
gente conseguiu, somos um partido de porte moderado na cidade, que
nunca tinha estado dentro do Executivo e a gente conseguiu
desempenhar um grande papel.
Tivemos
algumas perdas significativas ao longo do processo, mas os
verdadeiros comunistas abrilhantaram a gestão, deram um caráter
social, humano, democrático e participativo. O PCdoB fez a diferença
seja comandando grandes pastas como a Cultura, por exemplo, como
nossos assessores na rua. Nós demos um caráter de povo para o
governo.
Texto e fotos: Eliane Silva Pinto
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