quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Luis Nassif: a inapetência administrativa de Serra

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Independentemente das eleições do próximo ano, quando baixar a poeira permitindo uma avaliação serena de sua administração, o governador José Serra não entrará para a história da administração pública do estado. Pelo contrário, o balanço de três anos de gestão revela um mérito – administração financeira responsável – e uma falta de vontade de administrar poucas vezes vista no estado.

- Por Luis Nassif, no Último Segundo

Mesmo a Geraldo Alckmin – que tem lacunas como administrador – não faltava vontade de fazer, embora tivesse dificuldades evidentes para escolher o secretariado e definir políticas públicas inovadoras.

No caso de Serra, um dos fatores que pesou foi o fato de, desde o início, estar com a cabeça na futura eleição para presidente da República. Com isso, toda sua energia passou a ser canalizada para articulações e para algo inusitado para um governante com sua responsabilidade: monitorar e responder às críticas da imprensa. Certa vez, em reunião do secretariado, admitiu que chega a gastar três horas por dia lendo os jornais e articulando reações ou respostas a pontos que não lhe agradam.

Costuma dormir às quatro da manhã. De madrugada passa mensagens pelo Twitter – sistema de mensagens curtas da internet. Dormindo tarde, começa a trabalhar tarde.

Seu dia não começa antes das 11 da manhã – em geral, em compromissos fora do Palácio Bandeirantes. Praticamente não participa das reuniões do Secretariado.

Cada secretário encolheu-se em sua área, faz o seu trabalho sem que Serra tenha noção clara do que acontece no seu governo. Nas reuniões, seu único empenho consiste em cobrar a aceleração de obras, para poder entregar no decorrer de 2010.

Entra no jogo apenas em momentos de crise. Quando isso ocorre, não raras vezes emperra o processo decisório com indecisões frequentes.

Na greve da Polícia Civil, por exemplo, permitiu que o caldeirão entrasse em fervura recusando-se durante semanas a receber representantes do movimento. Só tomou uma decisão quando eclodiram conflitos em frente do Palácio Bandeirantes. Na semana seguinte, aceitou sem pestanejar todas as reivindicações dos policiais – inclusive a de reduzir o tempo de trabalho para aposentadoria de 35 para 30 anos.

Quando explodiu a crise mundial, industriais paulistas procuraram o Palácio Bandeirantes atrás de medidas que ajudassem a amenizar o desastre – especialmente em máquinas e equipamentos, setor que experimentou queda de 40% na produção.

Serra passou meses sem receber as lideranças. Aí a Abimaq (que representa os fabricantes) acertou um pacto com a CUT e a Força Sindical – que ameaçaram com uma manifestação em frente o Palácio. Só aí Serra aceitou algumas concessões tributárias ao setor, além de destinar uma verba – proveniente de recursos da venda da Nossa Caixa – para financiamento ao setor. Já era mês de março.

Se estivesse à frente do governo federal, essa demora teria sido fatal para a superação da crise.

O resultado desse desinteresse se reflete no descontentamento que grassa em seu secretariado – no qual os secretários são desestimulados a mostrar seu trabalho e Serra, por desconhecimento do que se passa, é incapaz de mostrar realizações na imprensa.

O caso Detran 1
Logo no início do seu governo, foi estimulado por alguns secretários a tirar o Detran das mãos da Polícia Civil. Alguns funcionários, egressos do governo Mário Covas, lembravam-se do drama do governador. Necessitando de fundos de campanha, foi obrigado a aceitar a sobrevivência dos esquemas do Detran. Mas quando falava do tema, chegava a chorar de raiva e de impotência.

O caso Detran 2
Com Serra entrando, o caixa de campanha fornido, foi-lhe sugerido limpar a área. Serra recusou com receio da reação da cúpula da Polícia Civil. “Até Pernambuco, de Jarbas Vasconcellos, fez essa limpeza”, contava-me um alto funcionário do secretariado de Serra. Hoje São Paulo é um dos cinco ou seis estados da Federação que ainda não conseguiu romper com os esquemas do Detran.

A gripe suína 1
A dificuldade em gerenciar o estado explode em vários outros episódios. Jamais recebeu lideranças de suinocultores no Palácio. Quando ocorreu o famoso episódio da gripe suína – na qual Serra gravou uma entrevista (que virou campeã do Youtube) relacionando a gripe com os porcos —, vendo o estrago convidou o setor para um almoço. Todos foram para o restaurante Varanda Grill e ficaram aguardando o governador.

A gripe suína 2
Serra chegou atrasado, com uma equipe de TV a tiracolo. Mal cumprimentou os presentes, pediu um bife de carne suína, cortou um pedaço, levou à boca – tudo devidamente registrado pelos cinegrafistas –, despediu-se secamente e foi embora. A intenção foi apenas a de registrar cenas, caso os adversários resolvessem explorar o tema na campanha.

Esvaziamento 1
São Paulo tem as melhores universidades, os melhores institutos de pesquisa do país, as melhores empresas, a infra-estrutura mais completa, os melhores quadros intelectuais. Caso Serra ainda tivesse mantido a energia de outrora, poderia ter mudado a face do país a partir de São Paulo. Com sua inapetência administrativa, houve um afastamento gradativo dos melhores quadros do partido.

Esvaziamento 2
O grande desafio dos próximos anos será a recomposição da oposição, o renascimento do PSDB sob outra base. Aparentemente houve o esgotamento completo da geração que emerge das diretas. FHC já está fora do jogo; Serra joga sua última cartada. Mas o egocentrismo das velhas lideranças, o desaparecimento dos grandes vultos, como Franco Montoro, Mário Covas, impediram a renovação do partido. A nova geração surgirá apenas quando a velha for afastada pelo tempo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Algumas estratégias de manipulação da elite na mídia

"A maioria da publicidade dirigida ao grande público usa discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse criança ou deficiente mental"

Estratégias e técnicas usadas pelas elites para a manipulação da opinião pública e da sociedade, sempre segundo Noam Chomsky:

A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO
Outra maneira de impor uma decisão impopular é apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública para aplicação futura. Naturalmente é mais fácil aceitar um sacrifício futuro, até porque o esforço não é feito imediatamente. Depois, porque o público tende a esperar ingenuamente que “tudo vai melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Enfim, isto dá tempo ao público para acostumar-se com a mudança e aceitá-la com resignação quando chegar a hora;

DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS
A maioria da publicidade dirigida ao grande público usa discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse criança ou deficiente mental. Quanto mais se pretende enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom idiotizante. Por quê? Em razão da sugestionabilidade, este tenderá a dar uma resposta ou apresentar uma reação desprovida de sentido critico;

USAR O ASPECTO EMOCIONAL MAIS DO QUE A REFLEXÃO
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto-circuito na análise racional, e por fim ao sentido crítico dos indivíduos. Além do mais, o uso do registro emocional permite abrir o acesso ao inconsciente para implantar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos.

MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE
Fazer como que se o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua servidão. A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre o possível, de forma que a distância entre classes inferiores e superiores permaneça a maior possível.

CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS
Nos últimos 50 anos, os avanços da tecnociência geraram uma enorme defasagem entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e usados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” detém um conhecimento avançado do ser humano, isto é, pode conhecer melhor o individuo comum do que ele mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, que o sistema exerce um controle maior sobre os indivíduos.

REFORÇAR A REVOLTA PELA CULPABILIDADE
Fazer o indivíduo acreditar que ele é o único culpado pela própria desgraça devido à limitação da sua inteligência, capacidades ou esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo culpa a si mesmo, gerando um estado depressivo cujo efeito imediato é a inibição da ação. E sem ação, não há revolução!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Confecom supera desorganização e termina com sucesso

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O fato de a Globo, a Zero Hora, a Folha, o Estadão e veículos de outras grandes empresas mostrarem-se mordidas pelas decisões da Confecom apenas demonstra que ela atingiu seus objetivos, de mexer nos interesses dos grupos que concentram em pouquíssimas mãos a comunicação no Brasil. Se é ruim pra eles, há de ser bom para a sociedade, sinal de um avanço no sentido de democratizar o setor.

- Postado por Cris Rodrigues (http://jornalismob.wordpress.com)

Ao que parece, podemos respirar aliviados. Os últimos dias da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que aconteceu essa semana, de 14 a 17 de dezembro, em Brasília, reverteu os prejuízos da falta de organização inicial. Uma mudança no regimento permitiu maior participação dos movimentos sociais, com o fim do quórum qualificado que beneficiava as empresas.

A sociedade civil, preocupada há meses com a falta de maioria (tinha 40%, enquanto o setor empresarial ficava igualmente com 40% e o governo com os outros 20%), conseguiu uma união tamanha que a grande maioria das propostas foram aprovadas direto (com mais de 80% de apoio, elas iriam direto para o relatório final).

Não vou entrar no mérito das palestras e das discussões que aconteceram, porque o espaço é curto. O que vale destacar são os resultados obtidos. Apesar de a Confecom não ter caráter deliberativo – ou seja, nenhuma decisão será implementada automaticamente -, foram aprovadas diversas propostas elaboradas anteriormente pelos segmentos que estão participando. Juntas, elas comporão o relatório final a ser encaminhado para o Congresso Nacional. O objetivo é que o documento sirva como base para um novo marco regulatório das comunicações. A Confecom começou com mais de 6 mil propostas, discutidas em 15 grupos de trabalho, com o propósito de reduzi-las a 150. No fim, foram aprovadas mais de 600 propostas.

Propostas

Das propostas aprovadas, destacam-se a criação do Conselho Nacional de Comunicação com caráter deliberativo – proposto em 2004 por Lula e rejeitado pela mídia -, a institucionalização da Confecom de dois em dois anos, a exigência de diploma para o exercício da profissão.
A importância da criação do Conselho se deve à participação da sociedade civil do debate sobre comunicação, através de um controle social da mídia. A ideia é que ele se torne um órgão permanente de regulamentação das políticas de comunicação no Brasil, instituindo um código de ética e coibindo excessos. Sua composição contará com a presença de governo, setor empresarial e sociedade civil, de forma tripartite.

Outras propostas aprovadas foram a criação de um Conselho Federal de Jornalistas; um maior rigor nas concessões; a complementaridade entre sistema público, privado e estatal na produção de conteúdo, com incentivos para mídia popular e independente; a universalização da banda larga como forma de inclusão digital; o fim da criminalização das rádios comunitárias que não possuem outorga e da burocratização das outorgas.

Grande imprensa boicota Confecom

O Jornal Nacional tentou claramente diminuir a importância das decisões tomadas na Conferência, atribuindo-lhe falta de legitimidade em função da ausência de grandes grupos do setor empresarial. Segundo William Bonner, entidades representativas do setor empresarial teriam se retirado porque a conferência tentava censurar os veículos através de um controle social da comunicação.

O fato de a Globo, a Zero Hora, a Folha, o Estadão e veículos de outras grandes empresas mostrarem-se mordidas pelas decisões da Confecom apenas demonstra que ela atingiu seus objetivos, de mexer nos interesses dos grupos que concentram em pouquíssimas mãos a comunicação no Brasil. Se é ruim pra eles, há de ser bom para a sociedade, sinal de um avanço no sentido de democratizar o setor.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Secretário de Movimentos Sociais do PCdoB de Jundiaí é eleito para participar da Conferência Estadual das Cidades

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Roberto Gonçalves de Sá, Secretário de Movimentos Sociais do PCdoB de Jundiái, foi eleito como Delegado para participar da Conferência Estadual das Cidades, que será realizada nos dias 27 e 28 de março no Memorial da América Latina em São Paulo.

Durante o evento, serão apontadas e debatidas quais devem ser as mudanças necessárias para melhorar a vida da população em seus municípios.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PCdoB-SP promove primeiro encontro de pré-candidatos a deputado para as eleições de 2010

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- Texto: André Lux / Fotos: Cristiano Guimarães


Mesa do primeiro encontro dos pré candidatos do PCdoB

O PCdoB de São Paulo realizou, no sábado, dia 12 de dezembro, seu primeiro encontro entre os pré-candidatos aos cargos de deputados estadual e federal. O objetivo do evento foi iniciar a preparação dos políticos do partido para a disputa eleitoral de 2010, que tem como principal meta aumentar o número de representantes do PCdoB na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal, fortalecendo politicamente o partido em São Paulo e no Brasil.


Deputado Pedro Bigardi expõe suas opiniões

Nádia Campeão, presidente do PCdoB do Estado de São Paulo, abriu os trabalhos felicitando a todos pelos êxitos conquistados em 2009 relativos ao governo Lula, ao Congresso Nacional do partido e à preparação para a disputa do pleito em 2010. “Temos que fazer uma campanha unificada e forte, aproveitando o contexto político atual que é amplamente favorável às forças da esquerda que dão apoio ao governo do presidente Lula e também o fato de que a oposição à direita não tem propostas para o país, nem discurso”, avalia. Para a presidente do PCdoB de São Paulo, cada pré-candidato tem o dever de lutar para obter o maior número de votos possível dentro do contingente de 28 milhões de eleitores que existem no Estado. “A militância e a vontade política são as maiores forças do nosso partido e com certeza vão fazer a diferença nas próximas eleições”, aposta.


Auditória da Assembleia Legislativa ficou lotado

Essas noções foram reforçadas pelo deputado estadual Pedro Bigardi, que sugeriu a todos os pré-candidatos que comecem desde já a realizar uma análise das conjunturas regionais, estadual e federal. “Isso é de extrema importância nas próximas eleições, pois vai ajudar o diretório estadual do PCdoB a mapear a situação política do Estado e na hora da elaboração do planejamento das campanhas”, enfatiza Bigardi.


Ministro Orlando Silva dá o seu recado

O Ministro do Esporte, Orlando Silva, esteve presente no evento e também prevê um crescimento do PCdoB nas próximas eleições, se houver empenho e determinação de cada pré-candidato. “Hoje, graças ao governo do presidente Lula do qual fazemos parte, temos crescimento econômico com distribuição de renda e justiça social. Precisamos mostrar isso à população nas eleições e provar que nós comunistas somos bom de conversa, de política e de governo”, destaca.


Os deputados Pedro Bigardi e Aldo Rebelo

Já a receita para se vencer uma eleição foi dada pelo deputado federal Aldo Rebelo: “Acordar cedo e dormir tarde, ter disciplina, disposição, otimismo e estar atento à vida e às necessidades das pessoas”. Para Rebelo, apenas ter boas idéias e boa intenção não bastam para vencer, pois é preciso fazer a população entender tudo isso. “Idéias são um caminho para se chegar ao povo. E isso depende de um bom planejamento e de muita estrutura”, define.


Bigardi junto às camaradas do PCdoB

O vereador Netinho de Paula também mostrou estar afinado com o espírito de união e colocou-se à disposição do partido para ajudar de todas as formas possíveis. “Cada um de nós deve pensar agora no que pode oferecer de melhor ao PCdoB para que a nossa direção consiga elaborar um planejamento estratégico bem estruturado e eficiente para fazer crescer a nossa representatividade nos níveis estadual e federal”, sugere.


Palestra do publicitário Júlio Filgueira

O evento contou ainda com uma palestra do publicitário Júlio Filgueira, que abordou as várias fases da estratégia eleitoral e deu importantes conselhos de como realizar uma campanha com envolvimento e profissionalismo, fatores essenciais para quem busca a vitória na abertura das urnas.

Vianna: Serra pediu pra "Globo" pegar leve com o Arruda?

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- por Rodrigo Vianna, jornalista, em seu blog Escrevinhador

Muita gente já percebeu que o "Correio Brasiliense", principal jornal de Brasilia, tem poupado José Roberto Arruda no escândalo do panetone (leia sobre isso aqui)

No caso do jornal, a razão seria (digamos) publicitária.

Mas não para por aí.

Ontem, um dos senadores mais bem informados do Congresso (ele transita bem entre governistas, mas é de um partido que tem boas relações com a oposição) garantiu, numa conversa em "off" com jornalistas: "a Globo vai tirar o pé do escândalo, o Serra chamou a direção de jornalismo e 'pediu' (ênfase irônica) para baixar a bola, e não bater tanto no Arruda".

Mas, por que, senador? "Isso respinga na minha candidatura", teria dito o governador de São Paulo.

(Muita gente acha que Serra, de início, não achou tão ruim o escândalo. Seria mais fácil negociar com um DEM enfraquecido. O Serra acha que, do jeito que está, o DEM virá por gravidade. Mas, se a crise se arrastar e o noticiário continuar mostrando as cenas, o PSDB também perde. Lula e o PT passam a ser vistos como fiadores do combate à corrupção.

Lula hoje já aproveitou a deixa: mandou para o Congresso um projeto de lei que transforma corrupção em crime hediondo.)

A conversa com o senador foi ontem. Hoje, quarta-feira, na hora do almoço, o pau quebrou em Brasília. Arruda mandou a polícia pra cima dos manifestantes da CUT e de partidos de esquerda.

No noticiário local, a Record ficou meia hora com as imagens da pancadaria, ao vivo. Na Globo, uma reportagem sobre um robô, no Japão.

É isso: "pedido" do Serra, não se discute. Cumpre-se!

Vamos ver como fica o noticiário nos próximos dias.

Nesta quarta, o "panetonegate" já tinha sumido também da primeira página da "Folha". Será que a "Folha" vai esconder a pancadaria em Brasília?

Difícil ignorar um escândalo desses. Mas tudo é uma questão de ênfase jornalística. O pedido não foi pra sumir com o caso, mas pra baixar a bola... A conferir.

O que digo é o seguinte: o senador é fonte segura. Em julho, avisou a vários jornalistas que havia uma fita de Arruda pegando dinheiro. Poucos acreditaram. As fitas estão aí.

O senador - agora - avisa que a fita mais impactante ainda não foi divulgada. Arruda apareceria numa cena de "adoração monetária", louvando as notas novinhas em folha.

"Eu vi a fita, ela existe. Só não sei se vai aparecer".

Parece inacreditável. Mas, nesse caso, quase tudo parece inacreditável: das meias e cuecas à desculpa do panetone...

Eu já não duvido de mais nada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mídia: Nossos medíocres Goebbels pós-modernos

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- por Miguel do Rosário, no blog Óleo do Diabo

Essa comparação é velha, mas o que eles fazem também é velho. Eles continuam repetindo a informação ad nauseam até que ela se incrustre em nosso inconsciente, até que nós mesmos esqueçamos o contexto que a gerou, e de como se trata de uma mentira.

Pensei algumas semanas atrás, lendo artigos sobre Cesare Battisti. Você pode ser uma pessoa estranha normal, que sente prazer em mandar cartinhas para jornais babantes de ódio e sadismo contra um homem cuja verdadeira história você não conhece. Até aí tudo bem.

O que me espantou é que, mais uma vez, comparou-se o caso Battisti aos cubanos mandados de volta à gulag cubana. Falo gulag apenas para imitar o trejeito da maioria dos missivistas de jornalões, que imagino vestirem gravatinha borboleta e incensarem a nossa imprensa como grande paladina da liberdade democrática. O fato da mesma imprensa ter apoiado e articulado o golpe de 1964 é só um detalhe insignificante.

Bem, a diferencinha básica, de que os cubanos pediram para voltar à Cuba, não é citada, de maneira que, a cada vez que a comparação Battisti X cubanos é realizada, a imprensa procura grudar, usando cola vagabunda, um raciocínio falho no intelecto já meio demente de seus leitores.
O fato traz consequências graves à psique moderna, e provamos isso quando, por algum desgraçado acaso da vida, somos obrigados a trocar idéias com essas pessoas. Quando essas pessoas sentam à nossa mesa - ou, o que é pior, nos sentamos à mesa delas, e elas passam a repetir, solertes e orgulhosas de si mesmas, exatamente a mesma idiotice que leram no jornal; e quiçá tenham lido já não num editorial, e sim numa carta de leitor!

Sim, porque é preciso entender o significado atual dessa aberração: Carta do Leitor. Aos poucos, aquilo se tornou uma das zarabatanas mais maliciosas do jornal. Por que ali não se tem mais obrigação de falar a verdade. Com a desculpa de divulgar a opinião do leitor, enfiam-se as cartinhas mais estapafúrdias. É o caso também de outro CB. César Benjamin. O ombudsman entregou o jogo. Disse que recebeu mais de duzentas cartas espinafrando a Folha, e somente nove elogiando. Mas o editor da seção de cartas punha, todo dia, uma carta a favor, outra contra. E assim temos um delicioso equilíbrio! O equilíbrio entre a verdade e a mentira!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O escândalo do panetone e a análise enfadonha da mídia

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As abordagens são plurais, mas o pensamento é único. Assim se constrói e se impõe a ideologia do capitalismo contemporâneo.

- Carlos Pompe, jornalista, no site Vermelho

O mais recente escândalo político, desta vez envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), demonstrou, mais uma vez, a dubiedade da mídia. O tratamento dado ao fato desmerece e condena a atividade política. Apesar das loas, repletas de lugar comum, à liberdade, o trabalho da mídia tem contribuído mais para o desgaste da democracia do que para o seu aperfeiçoamento.

No escândalo dos panetones (Arruda jura de pés juntos que o filme que o flagra recebendo dinheiro “não contabilizado” – digamos assim – foi usado para comprar panetones a serem doados aos pobres) quem ficou sujo na roda, além dos envolvidos, foi o Correio Braziliense, que se fez mais porta-voz do governador e chegou a ocultá-lo na manchete do primeiro dia do escândalo (”GDF e Distritais são alvo de investigação”). Como os principais meios de comunicação têm sucursal ou jornalistas na capital federal, contrastou visivelmente o tratamento do Correio e o dos outros jornais.

O Judiciário tem sido mais preservado pela mídia, talvez por temor das barras dos tribunais. Mas os meios de comunicação, o mais das vezes, reduzem o papel do Parlamento, em especial, e do Executivo a estereótipos, a relações, não de política, mas de negociatas. E como não há como desvincular a atividade política dos embates de classe, onde se destacam os conflitos econômicos, os flagrantes em que o poder do capital se faz presente ganham relevo. Notas de dinheiro vão parar nas cuecas, meias e bolsos de agentes políticos de variadas tendências partidárias, e “todos os políticos – e a atividade política – são sujos”…

Num estágio civilizacional em que é preponderante o monopólio econômico, inclusive da mídia, os receptores da comunicação são bombardeados por inúmeros analistas e formadores de opinião. Porém todos expondo, no essencial, as mesmas concepções. Assim, o telespectador assistirá, na Rede Globo, um âncora dizendo que o problema da política é a falta de ética e que a questão econômica é garantida pela liberdade de mercado. O leitor da Veja vai encontrar artigos de colunistas conceituados usando estilos diferentes mas registrando as mesmas ideias sobre a ética na política e a liberdade no mercado. Quem sintonizar a Rádio Band ouvirá locutores, cada qual com seu talento, martelando esses mesmos conceitos. As abordagens são plurais, mas o pensamento é único. Assim se constrói e se impõe a ideologia do capitalismo contemporâneo.

Jean-Marc Ferry considera que a atual concepção de liberdade de expressão é associada à liberdade de expressão dos conglomerados de comunicação e de seus jornalistas e analistas. Essa noção serve, segundo esse filósofo francês, apenas aos interesses econômicos das empresas privadas de comunicação que defendem, na realidade, “uma liberdade privada, pois é a liberdade de expressão dos patrões e dos jornalistas somente” – e eu acrescento, dos jornalistas que esposam as concepções e a ideologia de seus patrões monopolistas da mídia.

Opiniões que vão para além, ou que contestam, que o grande problema político de nosso tempo é a “ética”, ou que o desafio econômico vital de nossa era é a garantia do livre mercado, opiniões que contrariam esses dogmas não encontram guarida ou são ridicularizadas na mídia monopolista. Para estes prosadores da contracultura não há liberdade de expressão. Ou melhor, há. Mas desde que confinados ao gueto da “imprensa alternativa” ou dos desacreditados “veículos de esquerda”.

E que venha o próximo escândalo, pela esquerda ou pela direita, pelos governistas ou pela oposição. Serão todos monotematicamente tratados como “problema moral, ético”, fruto da ação de “políticos sujos”. Nada que desnude os profundos interesses de classe e os conflitos partidários e ideológicos que são seu verdadeiro pano de fundo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Altamiro Borges: "Estupro da Folha é outro tiro no pé"

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Com os “estupros” que a Folha insiste em praticar, a tendência é que a sua tiragem despenque ainda mais. O ato organizado pelo MSM poderá servir como mais uma pá de cal neste jornal leviano e golpista, que agride constantemente a democracia e a ética jornalística.

- por Altamiro Borges, membro do Comitê Central do PCdoB – Partido Comunista do Brasil, autor do livro “Sindicalismo, resistência e alternativas” (Editora Anita Garibaldi)

No sábado, dia 5, às 10 horas, o Movimento dos Sem Mídia (MSM) fez uma manifestação em frente ao prédio da Folha de S.Paulo (Rua Barão de Limeira, 425, centro da capital paulista), para protestar contra a publicação de um artigo leviano e irresponsável que acusou o presidente Lula de tentar “subjugar sexualmente” um jovem nos anos 1980. O artigo de uma página inteira, de autoria do ex-petista Cesar Benjamin, atual colunista da Folha, “foi forjado no ódio, na inveja e na covardia e é um estupro ao jornalismo”, afirma Eduardo Guimarães, presidente do MSM.

Sobre o artigo de Cesar Benjamin, que “estuprou” sua própria biografia de profundo conhecedor do Brasil e de intelectual brilhante, muitos já se pronunciaram criticamente – prefiro silenciar na tristeza por mais este ato instintivo e rancoroso. Sugiro apenas a leitura da resposta ponderada e firme do jornalista Gilberto Maringoni, publicada na Carta Maior. Membro do PSOL e crítico de esquerda do governo Lula, ele não poupou críticas ao texto do “Cesinha”, que estaria fazendo o jogo da direita brasileira às vésperas da sucessão presidencial. “Fico envergonhado com o papel que ele está desempenhando. Seu passado não merece isso. Mas a História irá julgá-lo”.

“Um horror” dos herdeiros de Frias

Já com relação ao jornal da famíglia Frias, a publicação do artigo sem qualquer apuração prévia ou rigor jornalístico liquida qualquer ilusão sobre o ecletismo da Folha. Após usar um ex-petista para desferir ataques pessoais ao presidente da República, ela mesma confessou sua leviandade, mas sem fazer autocrítica pública – talvez temendo processos jurídicos. Militantes que estiveram presos com Lula nos cárceres da ditadura, entre abril e maio de 1980, negaram taxativamente a história bizarra. Vale registrar a resposta íntegra de José Maria de Almeida, presidente do PSTU e outro crítico do governo Lula, que qualificou a insinuação de “baixaria”.

O reconhecimento cabal do “estupro” perpetrado pela Folha, porém, ocorreu com a entrevista de João Batista dos Santos, o ex-militante do Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP) que teria sido alvo da “investida” de Lula na cela. Ele considerou “um horror” o artigo, disse que isso nunca ocorreu e lamentou a publicação do texto sem ouvir os envolvidos no caso. Por ironia da história, Santos trabalhou numa granja mantida pela famíglia Frias em São José dos Campos, no interior paulista, na década de 1990. Para ele, se Octavio Frias de Oliveira, o barão da Folha, estivesse vivo (ele faleceu em 2007), “esteve artigo não teria sido publicado”.

Credibilidade e tiragem em queda

Depois de cunhar a expressão “ditabranda” para se referir aos trágicos anos da ditadura militar e de publicar uma “ficha policial” falsa contra a ministra Dilma Rousseff, a Folha dá outro tiro no pé. A publicação do asqueroso artigo fere a pouca credibilidade que ainda resta a este veículo e poderá resultar em novas quedas da sua pífia tiragem. Quando da “ditabranda”, o jornal perdeu mais de 3 mil assinantes, segundo fontes da própria empresa. Já no caso da falsa ficha policial, o jornal foi forçado a reconhecer timidamente o erro, temendo a abertura de um processo criminal.

Entre outros fatores, a perda de credibilidade do jornal da famíglia Frias ajuda a explicar a brutal queda da sua tiragem nos últimos anos. Segundo levantamento do IVC (Instituto Verificador de Circulação), a Folha é hoje o vigésimo quarto jornal em vendas avulsas no país, ficando atrás do Estadão (19º lugar) e de O Globo (15º lugar). Entre janeiro e setembro de 2009, ela vendeu em média 21.849 exemplares nas bancas. Uma tiragem pífia se comparada aos 489 mil exemplares vendidos em suas edições dominicais em outubro de 1996. Atualmente, o jornal só se sustenta graças à publicidade e à venda de assinaturas, que atinge basicamente a chamada classe média.

Com os “estupros” que a Folha insiste em praticar, a tendência é que a sua tiragem despenque ainda mais. O ato organizado pelo MSM poderá servir como mais uma pá de cal neste jornal leviano e golpista, que agride constantemente a democracia e a ética jornalística.