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Neste sábado (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra, o primeiro depois da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho deste ano. Apesar de reconhecerem os avanços recentes, líderes do movimento negro afirmam que o próximo governo terá muitos desafios, como a ampliação do ProUni (Programa Universidade para Todos) e a aprovação de novos projetos que visem à igualdade de oportunidades.
Para o fundador da ONG Educafro, frei David Raimundos Santos, a maior conquista da população negra no governo Lula foi o ProUni (Programa Universidade para Todos), criado em 2004. "Em cinco anos, só o ProUni colocou mais negros nas universidades do que os últimos cem anos de Brasil. E nós, negros, temos a consciência de que o que vai provocar a mobilidade social do povo negro é o acesso à educação de qualidade".
Entretanto, ele ressalta que o programa sozinho não é totalmente eficaz. O fundador da Educafro espera que Dilma amplie o projeto e crie uma bolsa para auxiliar os estudantes atendidos pelo ProUni nos gastos de transporte e alimentação.
Leia também: Netinho e outras lideranças comentam Semana da Consciência Negra
"[Dilma precisa] fazer com urgência um plano para que todo aluno que entrou na universidade com bolsa possa ter direito à bolsa permanente [para transporte, alimentação e livros]. Porque muitas pessoas pobres e negras estão entrando na faculdade, mas, por não ter dinheiro [para se manter no curso], estão abandonando. E nós queremos otimizar em 100% o ingresso do negro e pobre na universidade", diz Santos.
Outro desafio para o próximo governo é, na opinião dele, aprovar com mais rapidez os projetos da comunidade negra que tramitam no Congresso. "Existem mais de 15 projetos da comunidade circulando na Câmara e no Senado. Esses projetos todos estão abandonados porque a base governamental não teve prioridade em fazer com que eles fossem votados", critica.
Mulheres negras
Sueli Carneiro, coordenadora executiva do Geledés (grupo de mulheres
do movimento negro) afirma que a luta pela igualdade e equidade ao acesso às oportunidades sociais no Brasil é um trabalho permanente e de muita persistência. "A cada ano a consciência da população negra em geral é ampliada e isso pode ser verificado através dos debates nas mídias, escolas e poder público. O 20 de novembro é hoje uma data vibrante que demonstra a importância da construção e consolidação da consciência da sociedade civil negra em geral. É um período de reflexão, ação e intervenção em torno da questão racial", afirma Sueli.
Para ela, o Estatuto da Igualdade Racial (de 20 de julho de 2010), do jeito como foi sancionado, causou frustração, pois deixou de fora temas fundamentais. "Ele deve continuar servindo como um objeto de disputa para que venha a incorporar as demandas da população negra. Costumo dizer que a luta continua e que o estatuto deve ser aperfeiçoado nos próximos anos", opina a coordenadora do Geledés.
Nilza Iraci Silva, também do Geledés, afirma que o principal avanço do governo Lula foi a criação da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), em março de 2003. Mas ela pondera que a situação está longe de ser a ideal. Nilza destaca que faltam políticas públicas efetivas que beneficiem a população negra.
"O problema é quais são os recursos destinados a essas secretarias, e [quais são] as políticas efetivas implementadas pelos outros ministérios", avalia.
Questionada sobre as expectativas para o próximo governo, Nilza afirma que espera um levantamento detalhado de onde e como vivem os negros e quais são os seus principais problemas. Segundo ela, só com esse levantamento será possível colocar em prática as políticas públicas que os beneficiem.
"É preciso levar a questão social a sério. [...] A gente precisa de indicadores sérios em todas as áreas, educação, saúde, trabalho, que demonstrem o lugar que ocupa essa população no Brasil. Uma vez de posse desses dados, podemos criar políticas efetivas de promoção dessa população", afirma Nilza.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2009, 6,8% dos brasileiros se declaram negros, 43,8% dizem ser pardos e 48,4% se consideram brancos. Outras etnias somam 0,9%, segundo os números da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Romper com a invisibilidade
Segundo o jornalista responsável e criador da Afropress, Dojival Vieira dos Santos, o objetivo da agência de notícia é romper com a invisibilidade sobre a questão do racismo e contribuir para que o tema da igualdade integre efetivamente a agenda pública. “A abolição não representou para os negros a inclusão. O Brasil é majoritariamente auto-declarado preto e pardo e mesmo assim os negros continuam ocupando as piores posições em todos os indicadores sócio-econômicos”, diz.
Ele cita uma pesquisa divulgada no último dia 11, pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social e pelo Ibope que revela que a proporção de negros no quadro funcional das 500 maiores empresas cresceu apenas 6% entre 2007 e 2009 — subindo de 25,1 para 31,1%. Os números revelam que o maior abismo maior se dá nos cargos de direção. Embora tenham melhorado em 50%: o número de negros no comando das empresas que responderam a pesquisa é de 5,3% contra 3,5% no último levantamento, em 2007.
“Nós ainda somos um país em que a democracia se traduz na falta de
acesso ao universo de direitos e da cidadania para a maioria da população – declaradamente negra e parda. A pobreza no Brasil tem cor. Os negros ganham menos, moram mal, não são representados no poder publico e têm expectativa de vida seis anos menor. O Brasil precisa ajustar contas com essa herança maldita para consolidação da democracia”.
Para Dojival, a sanção do Estatuto da Igualdade Racial pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um avanço, mas não deve se limitar apenas a uma declaração de intenção. “Há um risco do estatuto se tornar apenas uma norma programática. Precisamos de um movimento social capaz de demandar, junto ao Estado, a concretização dessas intenções expressas no estatuto. O acesso ao universo de direitos deveria ter sido concretizado na época da Lei Áurea, mas
o simples fato de termos o estatuto já significa um avanço”.
Inclusão com informação
O cineasta e doutor em Cultura pela USP, Celso Prudente, explica que existe atualmente no Brasil um processo de consolidação da democracia onde o próprio Estado reconhece a desigualdade racial e passa a promover ações em favor da integração do negro na sociedade brasileira.
“Começamos a desenvolver uma discussão de políticas públicas de
ações afirmativas e reparatórias. Dentro dessas ações afirmativas estão contemplados os programas em que o negro passa a se afirmar como um valor africano que foi fundamental para o processo de formação da cultura brasileira. Já as ações reparatórias incluem, por exemplo, as cotas raciais no ensino e no serviço público. Não haverá democracia no Brasil, enquanto o negro não estiver integrado”.
Prudente fala ainda da necessidade da inclusão dos negros no processo de informação do país, que assumiu um papel fundamental nas últimas décadas. “Não estamos inseridos de uma maneira justa nos meios de comunicação de massa. Numa sociedade da informação a imagem tem mais poder do que a escrita. É necessário que os setores mais avançados da sociedade desenvolvam uma ampla campanha pela participação dos negros nos meios de comunicação e televisões públicas. É um absurdo que o negro pague imposto e não se identifique com a programação das TVs públicas”.
Ainda de acordo com o cineasta, o Estatuto da Igualdade Racial é uma
conquista como instrumento político. “Ele saiu de uma discussão que o governo abriu com a sociedade para se pensar a questão dos direitos raciais. Por si só, ele já é uma conquista”.
Estatuto precisa de regulamentação
Segundo o chefe da assessoria parlamentar da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Benedito Cintra, o Estatuto da Igualdade Racial cria direitos, mas ainda necessita ser regulamentado. “O estatuto tem o caráter programático e precisa de leis, decretos e portarias para materializar esses direitos. Ele é uma peça complexa e ao entrar no ordenamento jurídico precisará dialogar ainda mais com a Constituição, outras leis e códigos. O processo é um pouco longo. Ele precisa de uma regulamentação que vá lidando com as novas realidades”.
Para Cintra, o processo de regulamentação do estatuto precisa da participação dos movimentos sociais ligados às questões raciais do Brasil. “Como vivemos em um processo democrático, é essencial que os beneficiários atuem na regulamentação. O mais provável é que esse processo se inicie de forma mais ampla durante o governo da presidente eleita, Dilma Rousseff”.
“Temos um Plano Nacional da Igualdade Racial em construção, temos o estatuto que vai abrir possibilidades para novas leis, decretos e materializar situações -- nesse aspecto o Brasil é referência no mundo. O Brasil hoje é ouvido nesta questão de luta pela igualdade. Não podemos em uma ou duas décadas reparar um processo de desigualdade que tem mais de 500 anos. O estatuto não é um bem apenas da população negra, mas de toda a sociedade brasileira”, opina Cintra.
Ativismo no Congresso Nacional
O deputado federal Evandro Milhomen (PCdoB-AP) é um dos parlamentares mais ativos na questão racial no Congresso Nacional.
Para ele, a semana da Consciência Negra é um momento que aproveitamos para lembrar e celebrar a luta contra a discriminação, de retratar a memória histórica do que originou a desigualdade racial e a natureza desse preconceito." Hoje temos uma bancada na Câmara que pensa de forma positiva sobre todas as necessidades e direitos dos negros. Estamos firmes para trabalhar que o negro seja visto na sociedade de forma íntegra e capaz de gerar progresso à sociedade", afirma.
Ele concorda que uma das grandes conquistas que mostram essa evolução é o Estatuto da Igualdade Racial.
"Na próxima legislatura, continuaremos a provocar este debate, que é um instrumento importante para as políticas públicas de igualdade racial, assim como o reconhecimento das comunidades quilombolas, a promoção do trabalho, acesso à moradia adequada e muitos outros pontos que garantem os direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico e social", diz Milhomen.
Segundo ele, "apesar de não termos conquistado tudo, é uma luta que não pode parar. São mais de 100 anos de luta pelo reconhecimento da participação do negro na história do país".
sábado, 20 de novembro de 2010
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Ódio e preconceito: “Jornal de Jundiaí” agride a honra de mais de 87 mil jundiaienses
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As pessoas que lutam por uma sociedade mais justa, humana, igualitária, livre e democrática serão eternamente gratas aos Mazzonis e seus pares pela ajuda – mesmo que involuntária - na nossa caminhada rumo ao socialismo e a um mundo melhor.
- por Tércio Marinho, presidente do PCdoB de Jundiaí
A terceira derrota consecutiva da direita neoliberal, representada pela aliança entre PSDB e DEM, ao Governo Federal do Brasil deixou grande parte de seus apoiadores espumando de ódio e rancor, inclusive aqueles que trabalham na mídia corporativa. Eles não conseguem acreditar que, mesmo depois de oito anos batendo diariamente no governo Lula e depois em sua candidata, o político apoiado pelos seus patrões, José Serra, levou mais uma surra nas urnas (principalmente em Estados do sudeste como Minas Gerais, dominado pelo PSDB há anos, e Rio de Janeiro).
Então, ao invés de serem honestos e corajosos e analisarem os motivos que levaram o candidato deles à derrota humilhante à luz do sucesso incontestável do governo Lula, o que fazem? Simples: resolvem tentar desqualificar os votos dos eleitores de Dilma Rousseff e inventam teorias sobre um “Brasil dividido” entre os supostamente “iluminados” sulistas que votaram em José Serra e os “ignorantes” nortistas e nordestinos que, deliram, elegeram a candidata da aliança de centro-esquerda.
Todavia, basta analisar os resultados das votações nos Estados, como os já citados MG e RJ ou o Rio Grande do Sul, por exemplo, onde Dilma perdeu para Serra por uma diferença menor do que 1%, para perceber que essas afirmações são absolutamente ridículas. Além disso, já foi comprovado que Dilma seria eleita mesmo sem os votos do Nordeste (confira o gráfico mais abaixo).
Muitos artigos foram escritos e publicados na “grande mídia” nos últimos dias repletos de afirmações preconceituosas, machistas, sexistas e francamente ofensivas tanto à presidente Dilma Rousseff como a seus eleitores. Mas nenhum supera o texto assinado pelo editor-chefe do Jornal de Jundiaí, Sidney Mazzoni, e publicado em seu editorial semanal no dia 1 de novembro de 2010.
Repleto das costumeiras incorreções, distorções, comentários misóginos (como chamar a recém eleita Presidente da república de “dona Dilma”) e grosserias que são as marcas registradas desse pseudo-jornalista que, ao que tudo indica, tem carta branca da direção do jornal para atacar e denegrir quem ele bem entender, o texto merece a nossa atenção por conter uma agressão abominável à honra da população que votou em Dilma Rousseff, especialmente os mais de 87 mil jundiaienses que optaram pela petista nas urnas - muitos dos quais devem ser inclusive assinantes do jornal!
Vejam a que ponto chega o editor-chefe do jornal mais vendido de Jundiaí na sua ânsia de destilar o ódio que sente pela derrota de seu candidato José Serra:
“Que dona Dilma coloque o Bolsa Família, o maior programa assistencialista-eleitoreiro da história do País, nos eixos. Criado para botar comida na boca dos pobres, colocou esticados na rede uma geração de vagabundos, que vive às custas de quantos filhos a mulher conseguir parir na temporada de acasalamento. E do dinheiro de quem trabalha de verdade.”
Ou seja, para o Jornal de Jundiaí, em nome do qual escreve seu editor-chefe, todas as pessoas que votaram em Dilma o fizeram por causa do Bolsa Família, um programa eleitoreiro que tornou “vagabundos” todos os pobres que “vivem às custas dos filhos paridos na temporada de acasalamento”!
Os teores de preconceito social e ignomínia contidos nessa afirmação ultrapassam qualquer limite racional, mas não vamos nos ater a tais detalhes sórdidos, pois no fundo revelam apenas os desvios éticos e psicológicos de seu autor. Poderíamos inclusive troçar do pseudo-jornalista já que o candidato dele, José Serra, não apenas prometeu manter o programa como está, mas que passaria também a oferecer 13º salário aos beneficiários do Bolsa Família!
O que interessa é que qualquer pessoa minimamente honesta e bem informada sabe que a insinuação feita pelo JJ é mentira pura e simples.
O ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) divulgou que atualmente cerca de 12 milhões de famílias são atendidas pelo programa (considerando que apenas mãe e pai tem idade para votar, teríamos um total de, no máximo, 24 milhões de eleitores diretamente beneficiados), enquanto Dilma obteve mais de 55 milhões de votos. Em Jundiaí cerca de 7 mil famílias recebem o Bolsa Família, o que daria no máximo 14 mil eleitores, contra os 87 mil votos que a candidata da aliança de centro-esquerda conquistou na cidade. Sem dizer que existem muitas pessoas que, mesmo recebendo o Bolsa Família e outros benefícios proporcionados pelo Governo Federal, optaram por votar no candidato da direita neoliberal.
Outro dado convenientemente ignorado pelo Jornal de Jundiaí: até janeiro deste ano, mais de 4,1 milhões de famílias tiveram o benefício do Programa Bolsa Família cancelado, segundo dados do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome). De acordo com informações da Agência Brasil, os cortes são referentes ao aumento da renda per capita familiar sobre o piso mínimo estabelecido pelo programa. No geral, mais de 2,2 milhões de famílias (54%) foram dispensadas do benefício ou tiveram o auxílio suspenso pela elevação da renda (clique aqui para ler a matéria do site Infomoney).
Ou seja, quem afirma que o Bolsa Família “colocou esticados na rede uma geração de vagabundos” está agindo com pura má fé – o que é ainda mais grave no caso de um suposto jornalista que deveria, em nome da profissão e da ética, defender a verdade factual acima de tudo.
Momentos como esse em que vivemos no Brasil hoje, da vitória do amor sobre o ódio e da verdade sobre a mentira, quebram velhos paradigmas e são de grande importância histórica. Os oitos anos de Lula à frente do Governo Federal elevaram os pobres, os famintos e os marginalizados à condição de seres humanos, fator que infelizmente é inadmissível para alguns supostos defensores da democracia, da tolerância e da diversidade que, impulsionados pelo seu ódio de classe e pela sua soberba, são forçados a tirarem suas máscaras e mostrarem a todos suas verdadeiras faces.
A despeito do lixo grosseiro e ofensivo que destilam em páginas impressas ou virtuais, isso é extremamente positivo para a democracia, pois permite que a população analise e forme sua opinião crítica a partir de revelações públicas de valores e crenças que até ontem só eram confessados em conversas privadas entre a minoria que deu as cartas no Brasil até 2002. Não é à toa, portanto, que a dita “mídia grande” e seus autoproclamados “formadores de opinião” perdem a credibilidade e o respeito da população a cada dia e não conseguem mais manipular o coração e a mente da maioria dos brasileiros.
É por tudo isso que as pessoas que lutam por uma sociedade mais justa, humana, igualitária, livre, democrática e ecologicamente sustentável serão eternamente gratas aos Mazzonis e seus pares pela ajuda – mesmo que involuntária - na nossa caminhada rumo ao socialismo e a um mundo melhor.
As pessoas que lutam por uma sociedade mais justa, humana, igualitária, livre e democrática serão eternamente gratas aos Mazzonis e seus pares pela ajuda – mesmo que involuntária - na nossa caminhada rumo ao socialismo e a um mundo melhor.
- por Tércio Marinho, presidente do PCdoB de Jundiaí
A terceira derrota consecutiva da direita neoliberal, representada pela aliança entre PSDB e DEM, ao Governo Federal do Brasil deixou grande parte de seus apoiadores espumando de ódio e rancor, inclusive aqueles que trabalham na mídia corporativa. Eles não conseguem acreditar que, mesmo depois de oito anos batendo diariamente no governo Lula e depois em sua candidata, o político apoiado pelos seus patrões, José Serra, levou mais uma surra nas urnas (principalmente em Estados do sudeste como Minas Gerais, dominado pelo PSDB há anos, e Rio de Janeiro).
Então, ao invés de serem honestos e corajosos e analisarem os motivos que levaram o candidato deles à derrota humilhante à luz do sucesso incontestável do governo Lula, o que fazem? Simples: resolvem tentar desqualificar os votos dos eleitores de Dilma Rousseff e inventam teorias sobre um “Brasil dividido” entre os supostamente “iluminados” sulistas que votaram em José Serra e os “ignorantes” nortistas e nordestinos que, deliram, elegeram a candidata da aliança de centro-esquerda.
Todavia, basta analisar os resultados das votações nos Estados, como os já citados MG e RJ ou o Rio Grande do Sul, por exemplo, onde Dilma perdeu para Serra por uma diferença menor do que 1%, para perceber que essas afirmações são absolutamente ridículas. Além disso, já foi comprovado que Dilma seria eleita mesmo sem os votos do Nordeste (confira o gráfico mais abaixo).
Muitos artigos foram escritos e publicados na “grande mídia” nos últimos dias repletos de afirmações preconceituosas, machistas, sexistas e francamente ofensivas tanto à presidente Dilma Rousseff como a seus eleitores. Mas nenhum supera o texto assinado pelo editor-chefe do Jornal de Jundiaí, Sidney Mazzoni, e publicado em seu editorial semanal no dia 1 de novembro de 2010.
Repleto das costumeiras incorreções, distorções, comentários misóginos (como chamar a recém eleita Presidente da república de “dona Dilma”) e grosserias que são as marcas registradas desse pseudo-jornalista que, ao que tudo indica, tem carta branca da direção do jornal para atacar e denegrir quem ele bem entender, o texto merece a nossa atenção por conter uma agressão abominável à honra da população que votou em Dilma Rousseff, especialmente os mais de 87 mil jundiaienses que optaram pela petista nas urnas - muitos dos quais devem ser inclusive assinantes do jornal!
Vejam a que ponto chega o editor-chefe do jornal mais vendido de Jundiaí na sua ânsia de destilar o ódio que sente pela derrota de seu candidato José Serra:
“Que dona Dilma coloque o Bolsa Família, o maior programa assistencialista-eleitoreiro da história do País, nos eixos. Criado para botar comida na boca dos pobres, colocou esticados na rede uma geração de vagabundos, que vive às custas de quantos filhos a mulher conseguir parir na temporada de acasalamento. E do dinheiro de quem trabalha de verdade.”
Ou seja, para o Jornal de Jundiaí, em nome do qual escreve seu editor-chefe, todas as pessoas que votaram em Dilma o fizeram por causa do Bolsa Família, um programa eleitoreiro que tornou “vagabundos” todos os pobres que “vivem às custas dos filhos paridos na temporada de acasalamento”!
Os teores de preconceito social e ignomínia contidos nessa afirmação ultrapassam qualquer limite racional, mas não vamos nos ater a tais detalhes sórdidos, pois no fundo revelam apenas os desvios éticos e psicológicos de seu autor. Poderíamos inclusive troçar do pseudo-jornalista já que o candidato dele, José Serra, não apenas prometeu manter o programa como está, mas que passaria também a oferecer 13º salário aos beneficiários do Bolsa Família!
O que interessa é que qualquer pessoa minimamente honesta e bem informada sabe que a insinuação feita pelo JJ é mentira pura e simples.
O ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) divulgou que atualmente cerca de 12 milhões de famílias são atendidas pelo programa (considerando que apenas mãe e pai tem idade para votar, teríamos um total de, no máximo, 24 milhões de eleitores diretamente beneficiados), enquanto Dilma obteve mais de 55 milhões de votos. Em Jundiaí cerca de 7 mil famílias recebem o Bolsa Família, o que daria no máximo 14 mil eleitores, contra os 87 mil votos que a candidata da aliança de centro-esquerda conquistou na cidade. Sem dizer que existem muitas pessoas que, mesmo recebendo o Bolsa Família e outros benefícios proporcionados pelo Governo Federal, optaram por votar no candidato da direita neoliberal.
Outro dado convenientemente ignorado pelo Jornal de Jundiaí: até janeiro deste ano, mais de 4,1 milhões de famílias tiveram o benefício do Programa Bolsa Família cancelado, segundo dados do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome). De acordo com informações da Agência Brasil, os cortes são referentes ao aumento da renda per capita familiar sobre o piso mínimo estabelecido pelo programa. No geral, mais de 2,2 milhões de famílias (54%) foram dispensadas do benefício ou tiveram o auxílio suspenso pela elevação da renda (clique aqui para ler a matéria do site Infomoney).
Ou seja, quem afirma que o Bolsa Família “colocou esticados na rede uma geração de vagabundos” está agindo com pura má fé – o que é ainda mais grave no caso de um suposto jornalista que deveria, em nome da profissão e da ética, defender a verdade factual acima de tudo.
Momentos como esse em que vivemos no Brasil hoje, da vitória do amor sobre o ódio e da verdade sobre a mentira, quebram velhos paradigmas e são de grande importância histórica. Os oitos anos de Lula à frente do Governo Federal elevaram os pobres, os famintos e os marginalizados à condição de seres humanos, fator que infelizmente é inadmissível para alguns supostos defensores da democracia, da tolerância e da diversidade que, impulsionados pelo seu ódio de classe e pela sua soberba, são forçados a tirarem suas máscaras e mostrarem a todos suas verdadeiras faces.
A despeito do lixo grosseiro e ofensivo que destilam em páginas impressas ou virtuais, isso é extremamente positivo para a democracia, pois permite que a população analise e forme sua opinião crítica a partir de revelações públicas de valores e crenças que até ontem só eram confessados em conversas privadas entre a minoria que deu as cartas no Brasil até 2002. Não é à toa, portanto, que a dita “mídia grande” e seus autoproclamados “formadores de opinião” perdem a credibilidade e o respeito da população a cada dia e não conseguem mais manipular o coração e a mente da maioria dos brasileiros.
É por tudo isso que as pessoas que lutam por uma sociedade mais justa, humana, igualitária, livre, democrática e ecologicamente sustentável serão eternamente gratas aos Mazzonis e seus pares pela ajuda – mesmo que involuntária - na nossa caminhada rumo ao socialismo e a um mundo melhor.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Em artigo, Bigardi lamenta falta de diálogo da Prefeitura do PSDB com a população jundiaiense
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“Em qualquer governo minimamente democrático, os cidadãos opinam sobre o seu futuro e o de sua cidade. Aqui, não. Em governos cinzentos e obscuros, os interesses da maioria nem sempre são respeitados”. Assim o deputado estadual Pedro Bigardi se posicionou contrariamente ao modo como a Prefeitura de Jundiaí trata os assuntos relacionados a obras e desapropriações de imóveis no município.
A crítica ao modelo de governo adotado há anos pelo PSDB na cidade foi feita por meio de um artigo, publicado sábado (6) no jornal Bom Dia. Nele, Bigardi critica o desprezo do poder público local em relação à falta de diálogo com a população e cita como exemplo o temor de moradores da Vila Argos, que não querem deixar suas casas por conta de obras a serem realizadas pela administração municipal naquela região.
Leia, na íntegra, a opinião do deputado estadual Pedro Bigardi a respeito do assunto:
Vila Argos e o histórico desdém da Prefeitura
- por Pedro Bigardi*
Acompanho com interesse o debate sobre o futuro da Vila Argos, assunto este evidenciado pelo jornal Bom Dia há pouco tempo. O motivo está relacionado com as questões urbanísticas que envolvem o local - até porque a preservação ou revitalização de uma vila operária e de suas raízes históricas no município é algo que precisa ser considerado.
Um parque linear ao longo do Rio Guapeva, reconstituindo parte da mata ciliar, também é um fato relevante, especialmente em tempos ‘modernos’ onde as vegetações ciliares dão lugar aos gabiões (caixas de pedra), concretos e outras formas de canalização de rios. Se não bastassem estas questões citadas, há ainda um desejo pessoal de ver toda a área que envolve a Ponte Torta ganhando vida e beleza. É triste ver esta região onde passei minha vida com ares de abandono e desprezo por parte da Prefeitura de Jundiaí.
Mas o que mais me intriga nesta discussão sobre a Vila Argos é o fenômeno que ocorre em todas as ações da Prefeitura: os projetos são elaborados à margem dos interesses da própria comunidade, como se a indenização dos imóveis desapropriados fosse a única relação possível de ser estabelecida entre o poder público municipal e o cidadão. É muito pouco.
Em recente reunião com os moradores daquela região, a Prefeitura informou que apenas existem estudos sem qualquer definição do que será feito no local e, por consequência, quem será atingido pelas desapropriações.
Ora! Em qualquer governo minimamente democrático, os cidadãos opinam sobre o seu futuro e o de sua cidade. Aqui, não. Em governos cinzentos e obscuros, os interesses da maioria nem sempre são respeitados.
As pessoas têm o direito de participar da elaboração dos projetos ou, no mínimo, ter conhecimento deles para opinar contra ou a favor. Em uma recente entrevista, o prefeito disse que gostaria de uma cidade “com menos prédios e mais parques”. Todos nós queremos participar deste processo de elaboração, senão apenas os interesses de alguns falarão mais alto.
*Pedro Bigardi é engenheiro civil, professor de planejamento ambiental e deputado estadual
“Em qualquer governo minimamente democrático, os cidadãos opinam sobre o seu futuro e o de sua cidade. Aqui, não. Em governos cinzentos e obscuros, os interesses da maioria nem sempre são respeitados”. Assim o deputado estadual Pedro Bigardi se posicionou contrariamente ao modo como a Prefeitura de Jundiaí trata os assuntos relacionados a obras e desapropriações de imóveis no município.
A crítica ao modelo de governo adotado há anos pelo PSDB na cidade foi feita por meio de um artigo, publicado sábado (6) no jornal Bom Dia. Nele, Bigardi critica o desprezo do poder público local em relação à falta de diálogo com a população e cita como exemplo o temor de moradores da Vila Argos, que não querem deixar suas casas por conta de obras a serem realizadas pela administração municipal naquela região.
Leia, na íntegra, a opinião do deputado estadual Pedro Bigardi a respeito do assunto:
Vila Argos e o histórico desdém da Prefeitura
- por Pedro Bigardi*
Acompanho com interesse o debate sobre o futuro da Vila Argos, assunto este evidenciado pelo jornal Bom Dia há pouco tempo. O motivo está relacionado com as questões urbanísticas que envolvem o local - até porque a preservação ou revitalização de uma vila operária e de suas raízes históricas no município é algo que precisa ser considerado.
Um parque linear ao longo do Rio Guapeva, reconstituindo parte da mata ciliar, também é um fato relevante, especialmente em tempos ‘modernos’ onde as vegetações ciliares dão lugar aos gabiões (caixas de pedra), concretos e outras formas de canalização de rios. Se não bastassem estas questões citadas, há ainda um desejo pessoal de ver toda a área que envolve a Ponte Torta ganhando vida e beleza. É triste ver esta região onde passei minha vida com ares de abandono e desprezo por parte da Prefeitura de Jundiaí.
Mas o que mais me intriga nesta discussão sobre a Vila Argos é o fenômeno que ocorre em todas as ações da Prefeitura: os projetos são elaborados à margem dos interesses da própria comunidade, como se a indenização dos imóveis desapropriados fosse a única relação possível de ser estabelecida entre o poder público municipal e o cidadão. É muito pouco.
Em recente reunião com os moradores daquela região, a Prefeitura informou que apenas existem estudos sem qualquer definição do que será feito no local e, por consequência, quem será atingido pelas desapropriações.
Ora! Em qualquer governo minimamente democrático, os cidadãos opinam sobre o seu futuro e o de sua cidade. Aqui, não. Em governos cinzentos e obscuros, os interesses da maioria nem sempre são respeitados.
As pessoas têm o direito de participar da elaboração dos projetos ou, no mínimo, ter conhecimento deles para opinar contra ou a favor. Em uma recente entrevista, o prefeito disse que gostaria de uma cidade “com menos prédios e mais parques”. Todos nós queremos participar deste processo de elaboração, senão apenas os interesses de alguns falarão mais alto.
*Pedro Bigardi é engenheiro civil, professor de planejamento ambiental e deputado estadual
sábado, 6 de novembro de 2010
Renato Rabelo: A maior vitória do povo brasileiro em 2010
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Durante reunião da Comissão Política Nacional do PCdoB realizada nesta sexta-feira (5) em São Paulo, o presidente do partido, Renato Rabelo, fez uma intervenção na abertura dos trabalhos em que descreve o cenário político atual com ênfase na eleição de Dilma Rousseff, na transição de governo e nas necessidades mais urgentes da próxima administração. O dirigente assegurou – o que depois foi ratificado pela CPN – que o partido se empenhará pelo êxito do novo governo. Confira íntegra a seguir.
A vitória de Dilma Rousseff – que alcançou 56,05% dos votos válidos nas eleições de 31 de outubro – tem sentido estratégico, avança no caminho traçado pelo programa do Partido Comunista do Brasil. Se houvesse uma derrota eleitoral agora, truncaria nosso avanço no sentido do objetivo maior programático. É a maior vitória política do povo brasileiro no grande embate eleitoral de 2010. Dilma é eleita com a segunda maior votação da história política brasileira, sendo a primeira mulher a ser eleita presidente da República.
Trata-se de um feito histórico inédito porque é a terceira vitória consecutiva de forças avançadas do país. O ciclo aberto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 permitiu às forças democráticas, progressistas e de esquerda atingir o poder central. Jamais se tinha alcançado até aqui a execução de um programa que combinasse soberania nacional, desenvolvimento econômico, distribuição de renda, inclusão social dos deserdados e liberdades políticas.
Esta vitória repercutiu além-mar, em outros continentes, reforçando o papel alcançado pelo Brasil de nação respeitada no mundo e estimulando a nova situação política vivida na América Latina, a partir da formação de governos soberanos, democráticos e populares.
A campanha de Dilma Rousseff teve de enfrentar uma campanha feroz e odienta. A mais feroz e intensa oposição, considerando os poderosos meios de comunicação envolvidos e a conformação de santa união de forças conservadoras, retrogradas e obscurantistas, que agiram desbragadamente para barrar o êxito eleitoral da campanha de Dilma.
O presidente Lula foi o grande artífice da vitória alcançada. O grande lastro para o impulso e ampliação da campanha de Dilma foi a compreensão da maioria da nação de que era preciso a continuidade do governo Lula. A aprovação do seu governo já tinha atingido o extraordinário patamar de 83% de apoio da população nas pesquisas de opinião.
A campanha de Dilma posta em movimento partia da justa orientação de colocar a disputa política de 2010 nos moldes de um “plebiscito”. Ou seja, aprovar ou não o governo Lula, contrastar o programa aplicado por Lula em relação ao precedente executado por FHC. A candidata Dilma apresentada pelo presidente Lula, e pessoa protagonista do seu governo, era exposta pelo presidente como a expressão maior e garantia da continuidade do seu governo sem ele. Logo surgiram assertivas as mais variadas, fazendo esforços para demonstrar que era impossível a transferência de votos de Lula para sua candidata.
É evidente que o conjunto das forças de oposição, nos seus diversos moldes, procurou agir para inviabilizar a linha plebiscitária do pleito, despolitizando-o, tentando recolocar o centro do embate na comparação de currículos, e na experiência da capacidade gestora. E mais adiante inflando uma terceira candidatura, almejando certa tri-polarização.
Refletindo essa tentativa de despolarização política, José Serra foi incapaz de se opor ao governo Lula e escondeu o período de oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele procurou se apresentar como o mais bem preparado, por sua experiência de governo, para dar continuidade ao pós-Lula. Lula era reconhecido por ele como um mito acima das injunções políticas. A maioria do povo não se seduziu por sua artimanha. A aparição de Lula nos programas de rádio e TV apresentando e justificando sua escolha fez a candidatura Dilma ter ampla aceitação, refletindo forte ascenso nas pesquisas de opinião.
A candidatura Serra se perdeu não encontrando sua identidade: viveu o dilema de ser continuidade ou oposição. Um sistema de oposição – oposição política, midiática e de elites dominantes conservadoras – se consumou neste embate da eleição presidencial de 2010. Diante da iminência do revés, esse sistema procurou açodadamente projetar a candidatura de Marina e pelo modo da má fé desqualificar e satanizar a imagem da candidata Dilma Rousseff. Montaram vasto esquema de campanha subterrânea desde a Internet, a produção massiva de panfletos apócrifos e uma extensa rede de telemarketing nos estados.
Nessa nova fase de campanha, que compreendeu o final do primeiro turno, nosso comando da campanha de Dilma adotou uma postura olímpica e burocrática. Assumiu uma concepção ilusória de que a eleição já estava decidida a nosso favor no primeiro turno. Distanciou-se assim do curso concreto da campanha. Não percebeu que o ataque aberto e subterrâneo à idoneidade de nossa candidata levava a uma transferência da perda de votos da nossa candidata para Marina. Ficamos fixos na posição de que a candidatura Serra mantinha-se estagnada e de que Marina não ultrapassaria mais de 12% percentuais, restando a ilusão de que o pleito se finalizaria no primeiro turno.
A existência do segundo turno na eleição presidencial, apesar da importante vitória que colhemos no primeiro turno, deixou a pecha e a consciência de que fomos derrotados. Era possível vencer no primeiro turno? Sim. Em carta dirigida a Dilma e Lula afirmei que a ilusão nos traiu nos afastando do curso real do embate, apontando a responsabilidade da Coordenação da Campanha (Fiz duas cartas a eles endereçadas e um artigo para divulgação pública, “Abaixo as Ilusões”). O adversário batido festejou a “vitória”. Reascendeu a esperança perdida nos meios oposicionistas.
O forte choque inesperado do percurso eleitoral levou a se encarar a realidade objetivamente. Buscou-se uma convergência em dois sentidos: politizar a campanha, agora facilitada pela polarização objetiva do segundo turno (semelhante o acontecido no segundo turno de 2006); mobilizar todas as forças políticas possíveis, lideranças dos diversos setores da vida nacional, movimentos sociais, militância em todo país.
As forças oposicionistas retemperadas com uma nova esperança procuraram se armar utilizando todos os meios para decidir a batalha a seu favor. Atacaram em todas as frentes: na área política tentaram dizer que era a candidatura Serra que tinha estatura capaz de unir o Brasil, acima das injunções partidárias; na área social, ofereceram bônus sociais para o salário mínimo, aposentados e aos que recebem a Bolsa Família; na esfera moral, traficando com valores que invocasse preconceitos contra a trajetória, posições e a vida pessoal da candidata Dilma Rousseff. Procuravam assim, corresponder a todos os setores sociais, buscando apoio nas camadas populares e médias.
As batalhas do segundo turno não se resumiram na polarização entre dois projetos que foram sendo explicitados. Foi além. O fragor do embate acabou delineando dois campos políticos e ideológicos em curso. A candidatura de Serra tornou-se o escoadouro da política, conceitos e valores de setores atrasados e obscurantistas, de correntes de extrema-direita que aparentemente estavam fora de ação. E de compromissos com as camadas conservadoras de São Paulo.
Vencemos a batalha decisiva de 31 de outubro. Vencemos porque tem sido forte e amplo o anseio de continuidade e vasto o prestígio da liderança de Lula; porque foram reafirmadas as diferenças de programa e que a candidata de Lula é realmente mais confiável para a continuidade e avanços; a candidatura Dilma foi se impondo para a maioria dos eleitores; amplas forças políticas e sociais favoráveis à candidatura Dilma, antes adormecidas, entraram em movimento.
Nosso Partido desde o início dedicou-se completamente à vitória de Dilma. Contribuiu na construção da aliança de partidos e movimentos sociais que respaldou a candidata, apresentou ideias programáticas e opiniões sobre a condução política da jornada, indicou quadros para a coordenação da campanha e, por todo o país, seus candidatos e militantes abraçaram com entusiasmo a bandeira de Dilma. Do mesmo modo, batalhou pela vitória de seus demais aliados aos governos estaduais e ao Senado. Catorze governadores e 28 senadores eleitos tiveram o apoio decidido dos comunistas.
Serra sai menor da campanha, como bem afirmou Lula. A oposição derrotada é desnudada de suas contradições. A sua recomposição será difícil porque é profundo o vinco de sua divisão. A luta pela predominância de novas lideranças da oposição já está em marcha. Eles terão que enfrentar agora uma maior e mais definida base governamental de uma sucessão vitoriosa, podendo sofrer maiores divisões.
Conquistada a vitória de sentido histórico, estamos agora diante da construção da transição e do que deverá ser o novo governo. Este desafio é ainda maior porquanto tem que seguir adiante nas conquistas alcançadas pelos dois governos de Lula. Para avançar, o novo governo já está sujeito a pressões e contrapressões de toda ordem. Tem limites no tempo e nas condições existentes o lema de que “todos ganham”. São inevitáveis os momentos dos grandes embates políticos e sociais que levam às mudanças profundas, as quais não sendo realizadas voltam-se ao pior retrocesso. O fiel da balança tem que pender para o lado da maioria da nação e das grandes parcelas majoritárias dos que trabalham e produzem.
O PCdoB participará da transição ao novo governo. Neste processo, o Partido vai primeiro enfatizar a necessidade de dar nitidez ao projeto que serviu de base para sua vitória, definindo um programa imediato de governo que compreenda as prioridades a serem enfrentadas. Segundo, devemos nos empenhar na estabilidade da aliança ampla que permita a governabilidade. Mas, dada a sua heterogeneidade, deveremos trabalhar pela construção de um bloco de forças de esquerda e progressistas com a finalidade de formar um pólo político consequente, a fim de garantir o rumo do programa e o êxito da política que envolva todas as esferas do governo.
As questões candentes que devemos discutir na transição para o novo governo, podendo apresentar ideias e propostas imediatas para condução do governo eleito, são:
- Posição diante da necessidade de “corte de gastos”;
-“Guerra cambial”- liquidez internacional sem limites, impressão desbragada de papel-moeda pelos EUA;
- A resolução no Congresso da proposta do governo sobre o pré-sal;
- Garantia do aumento real do salário mínimo em 2011;
- Mais investimentos para a saúde
Leia também:
Comissão Política: PCdoB se empenhará pelo êxito do governo Dilma
Durante reunião da Comissão Política Nacional do PCdoB realizada nesta sexta-feira (5) em São Paulo, o presidente do partido, Renato Rabelo, fez uma intervenção na abertura dos trabalhos em que descreve o cenário político atual com ênfase na eleição de Dilma Rousseff, na transição de governo e nas necessidades mais urgentes da próxima administração. O dirigente assegurou – o que depois foi ratificado pela CPN – que o partido se empenhará pelo êxito do novo governo. Confira íntegra a seguir.
A vitória de Dilma Rousseff – que alcançou 56,05% dos votos válidos nas eleições de 31 de outubro – tem sentido estratégico, avança no caminho traçado pelo programa do Partido Comunista do Brasil. Se houvesse uma derrota eleitoral agora, truncaria nosso avanço no sentido do objetivo maior programático. É a maior vitória política do povo brasileiro no grande embate eleitoral de 2010. Dilma é eleita com a segunda maior votação da história política brasileira, sendo a primeira mulher a ser eleita presidente da República.
Trata-se de um feito histórico inédito porque é a terceira vitória consecutiva de forças avançadas do país. O ciclo aberto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 permitiu às forças democráticas, progressistas e de esquerda atingir o poder central. Jamais se tinha alcançado até aqui a execução de um programa que combinasse soberania nacional, desenvolvimento econômico, distribuição de renda, inclusão social dos deserdados e liberdades políticas.
Esta vitória repercutiu além-mar, em outros continentes, reforçando o papel alcançado pelo Brasil de nação respeitada no mundo e estimulando a nova situação política vivida na América Latina, a partir da formação de governos soberanos, democráticos e populares.
A campanha de Dilma Rousseff teve de enfrentar uma campanha feroz e odienta. A mais feroz e intensa oposição, considerando os poderosos meios de comunicação envolvidos e a conformação de santa união de forças conservadoras, retrogradas e obscurantistas, que agiram desbragadamente para barrar o êxito eleitoral da campanha de Dilma.
O presidente Lula foi o grande artífice da vitória alcançada. O grande lastro para o impulso e ampliação da campanha de Dilma foi a compreensão da maioria da nação de que era preciso a continuidade do governo Lula. A aprovação do seu governo já tinha atingido o extraordinário patamar de 83% de apoio da população nas pesquisas de opinião.
A campanha de Dilma posta em movimento partia da justa orientação de colocar a disputa política de 2010 nos moldes de um “plebiscito”. Ou seja, aprovar ou não o governo Lula, contrastar o programa aplicado por Lula em relação ao precedente executado por FHC. A candidata Dilma apresentada pelo presidente Lula, e pessoa protagonista do seu governo, era exposta pelo presidente como a expressão maior e garantia da continuidade do seu governo sem ele. Logo surgiram assertivas as mais variadas, fazendo esforços para demonstrar que era impossível a transferência de votos de Lula para sua candidata.
É evidente que o conjunto das forças de oposição, nos seus diversos moldes, procurou agir para inviabilizar a linha plebiscitária do pleito, despolitizando-o, tentando recolocar o centro do embate na comparação de currículos, e na experiência da capacidade gestora. E mais adiante inflando uma terceira candidatura, almejando certa tri-polarização.
Refletindo essa tentativa de despolarização política, José Serra foi incapaz de se opor ao governo Lula e escondeu o período de oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele procurou se apresentar como o mais bem preparado, por sua experiência de governo, para dar continuidade ao pós-Lula. Lula era reconhecido por ele como um mito acima das injunções políticas. A maioria do povo não se seduziu por sua artimanha. A aparição de Lula nos programas de rádio e TV apresentando e justificando sua escolha fez a candidatura Dilma ter ampla aceitação, refletindo forte ascenso nas pesquisas de opinião.
A candidatura Serra se perdeu não encontrando sua identidade: viveu o dilema de ser continuidade ou oposição. Um sistema de oposição – oposição política, midiática e de elites dominantes conservadoras – se consumou neste embate da eleição presidencial de 2010. Diante da iminência do revés, esse sistema procurou açodadamente projetar a candidatura de Marina e pelo modo da má fé desqualificar e satanizar a imagem da candidata Dilma Rousseff. Montaram vasto esquema de campanha subterrânea desde a Internet, a produção massiva de panfletos apócrifos e uma extensa rede de telemarketing nos estados.
Nessa nova fase de campanha, que compreendeu o final do primeiro turno, nosso comando da campanha de Dilma adotou uma postura olímpica e burocrática. Assumiu uma concepção ilusória de que a eleição já estava decidida a nosso favor no primeiro turno. Distanciou-se assim do curso concreto da campanha. Não percebeu que o ataque aberto e subterrâneo à idoneidade de nossa candidata levava a uma transferência da perda de votos da nossa candidata para Marina. Ficamos fixos na posição de que a candidatura Serra mantinha-se estagnada e de que Marina não ultrapassaria mais de 12% percentuais, restando a ilusão de que o pleito se finalizaria no primeiro turno.
A existência do segundo turno na eleição presidencial, apesar da importante vitória que colhemos no primeiro turno, deixou a pecha e a consciência de que fomos derrotados. Era possível vencer no primeiro turno? Sim. Em carta dirigida a Dilma e Lula afirmei que a ilusão nos traiu nos afastando do curso real do embate, apontando a responsabilidade da Coordenação da Campanha (Fiz duas cartas a eles endereçadas e um artigo para divulgação pública, “Abaixo as Ilusões”). O adversário batido festejou a “vitória”. Reascendeu a esperança perdida nos meios oposicionistas.
O forte choque inesperado do percurso eleitoral levou a se encarar a realidade objetivamente. Buscou-se uma convergência em dois sentidos: politizar a campanha, agora facilitada pela polarização objetiva do segundo turno (semelhante o acontecido no segundo turno de 2006); mobilizar todas as forças políticas possíveis, lideranças dos diversos setores da vida nacional, movimentos sociais, militância em todo país.
As forças oposicionistas retemperadas com uma nova esperança procuraram se armar utilizando todos os meios para decidir a batalha a seu favor. Atacaram em todas as frentes: na área política tentaram dizer que era a candidatura Serra que tinha estatura capaz de unir o Brasil, acima das injunções partidárias; na área social, ofereceram bônus sociais para o salário mínimo, aposentados e aos que recebem a Bolsa Família; na esfera moral, traficando com valores que invocasse preconceitos contra a trajetória, posições e a vida pessoal da candidata Dilma Rousseff. Procuravam assim, corresponder a todos os setores sociais, buscando apoio nas camadas populares e médias.
As batalhas do segundo turno não se resumiram na polarização entre dois projetos que foram sendo explicitados. Foi além. O fragor do embate acabou delineando dois campos políticos e ideológicos em curso. A candidatura de Serra tornou-se o escoadouro da política, conceitos e valores de setores atrasados e obscurantistas, de correntes de extrema-direita que aparentemente estavam fora de ação. E de compromissos com as camadas conservadoras de São Paulo.
Vencemos a batalha decisiva de 31 de outubro. Vencemos porque tem sido forte e amplo o anseio de continuidade e vasto o prestígio da liderança de Lula; porque foram reafirmadas as diferenças de programa e que a candidata de Lula é realmente mais confiável para a continuidade e avanços; a candidatura Dilma foi se impondo para a maioria dos eleitores; amplas forças políticas e sociais favoráveis à candidatura Dilma, antes adormecidas, entraram em movimento.
Nosso Partido desde o início dedicou-se completamente à vitória de Dilma. Contribuiu na construção da aliança de partidos e movimentos sociais que respaldou a candidata, apresentou ideias programáticas e opiniões sobre a condução política da jornada, indicou quadros para a coordenação da campanha e, por todo o país, seus candidatos e militantes abraçaram com entusiasmo a bandeira de Dilma. Do mesmo modo, batalhou pela vitória de seus demais aliados aos governos estaduais e ao Senado. Catorze governadores e 28 senadores eleitos tiveram o apoio decidido dos comunistas.
Serra sai menor da campanha, como bem afirmou Lula. A oposição derrotada é desnudada de suas contradições. A sua recomposição será difícil porque é profundo o vinco de sua divisão. A luta pela predominância de novas lideranças da oposição já está em marcha. Eles terão que enfrentar agora uma maior e mais definida base governamental de uma sucessão vitoriosa, podendo sofrer maiores divisões.
Conquistada a vitória de sentido histórico, estamos agora diante da construção da transição e do que deverá ser o novo governo. Este desafio é ainda maior porquanto tem que seguir adiante nas conquistas alcançadas pelos dois governos de Lula. Para avançar, o novo governo já está sujeito a pressões e contrapressões de toda ordem. Tem limites no tempo e nas condições existentes o lema de que “todos ganham”. São inevitáveis os momentos dos grandes embates políticos e sociais que levam às mudanças profundas, as quais não sendo realizadas voltam-se ao pior retrocesso. O fiel da balança tem que pender para o lado da maioria da nação e das grandes parcelas majoritárias dos que trabalham e produzem.
O PCdoB participará da transição ao novo governo. Neste processo, o Partido vai primeiro enfatizar a necessidade de dar nitidez ao projeto que serviu de base para sua vitória, definindo um programa imediato de governo que compreenda as prioridades a serem enfrentadas. Segundo, devemos nos empenhar na estabilidade da aliança ampla que permita a governabilidade. Mas, dada a sua heterogeneidade, deveremos trabalhar pela construção de um bloco de forças de esquerda e progressistas com a finalidade de formar um pólo político consequente, a fim de garantir o rumo do programa e o êxito da política que envolva todas as esferas do governo.
As questões candentes que devemos discutir na transição para o novo governo, podendo apresentar ideias e propostas imediatas para condução do governo eleito, são:
- Posição diante da necessidade de “corte de gastos”;
-“Guerra cambial”- liquidez internacional sem limites, impressão desbragada de papel-moeda pelos EUA;
- A resolução no Congresso da proposta do governo sobre o pré-sal;
- Garantia do aumento real do salário mínimo em 2011;
- Mais investimentos para a saúde
Leia também:
Comissão Política: PCdoB se empenhará pelo êxito do governo Dilma
terça-feira, 2 de novembro de 2010
A eleição em que a grande imprensa perdeu
.
Não há como dissimular o papel da imprensa tradicional no jogo sujo que termina. Também fica difícil disfarçar o ressentimento da imprensa com o resultado das urnas. Não há análise, por mais que se pretenda distanciada, que esconda o fato de que a imprensa tradicional foi fragorosamente derrotada nestas eleições.
- Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa
Os principais jornais do país anunciam a vitória da candidata petista Dilma Rousseff como a última obra do presidente Lula da Silva. O Estado de S. Paulo é o mais explícito: "A vitória de Lula", diz a manchete.
O Globo se arrisca em adivinhações: "Lula elege Dilma e aliados já articulam sua volta em 2014", diz o jornal carioca. A intenção é claramente minimizar o cacife político da presidente eleita. Já a Folha de S.Paulo destaca o fato de o Brasil ter escolhido a primeira mulher e “primeira ex-guerrilheira" para a Presidência da República.
Lendo as edições do domingo e de segunda-feira (1/11), alguém que estivesse desembarcando no Brasil depois de três meses de viagem nem chegaria a desconfiar que a imprensa havia sido, até a véspera, protagonista das mais ativas na campanha eleitoral.
Desejo manifesto
Os jornais inauguram a semana pós-eleitoral com cara de jornais, não dos panfletos em que se transformaram nos últimos meses. Cada um conforme seus recursos, os diários tentam interpretar a vontade das urnas e adivinhar o que virá a ser o futuro governo. No entanto, alguns pontos em comum podem ser ressaltados.
A chamada grande imprensa procura afirmar que a oposição, apesar de derrotada na eleição principal, cresceu em número de eleitores, mesmo perdendo na maioria dos estados. A maioria feita pela candidata governista no Congresso Nacional seria equilibrada pela eleição de governadores oposicionistas nos estados mais populosos, segundo interpretam os jornais.
Como sempre, o viés ideológico direciona as escolhas da imprensa, que perdeu a disposição para arriscar opiniões fora da sua própria caixinha de convicções. Basta lembrar como foi a manada de adesões ao governo central nas duas eleições do presidente Lula da Silva para colocar em dúvida as afirmações dos jornais sobre a suposta solidez do bloco oposicionista.
Com o histórico do adesismo que marca a República desde a redemocratização, parece arriscado demais apostar em configurações de forças políticas com base no resultado quente das urnas. No caso, essas análises representam muito mais a manifestação dos desejos da imprensa, de não parecer assim tão derrotada pela realidade da votação, do que a expressão de uma visão realista do resultado eleitoral.
Dissimulando a derrota
Os jornais citam o desgaste que foi produzido nas bases da oposição por conta de divergências entre o candidato derrotado José Serra e o senador eleito de Minas Gerais Aécio Neves, considerado por analistas do próprio PSDB como o grande trunfo desperdiçado pela campanha oposicionista.
Sobram indícios de que os dois personagens criaram um fosso intransponível entre si, e que daqui para frente a consolidação da carreira de Aécio Neves implica a diminuição do papel a ser exercido por Serra.
Some-se a isso o fato de que Serra também tem divergências com o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, para se construir uma análise muito menos animadora sobre o seu futuro como líder da oposição. Além disso, ainda resta dentro do armário o esqueleto do suposto dossiê que teria sido montado no período da escolha do candidato do PSDB, e que teve como objetos de bisbilhotices pessoas ligadas a José Serra.
Serra perdeu em Minas Gerais e ninguém sabe quanto desses votos foram para a candidata oposicionista como vingança dos mineiros pela maneira como ele passou por cima das ambições políticas de Aécio Neves.
A imprensa também destaca que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, anda fazendo planos para se descolar de seus padrinhos políticos e prepara o lançamento de um novo partido, montado com os restos da liderança do peemedebista Orestes Quércia no estado.
Assim, em poucas linhas, pode-se observar que os principais jornais do país, que tiveram praticamente todo o final de semana para preparar suas análises pós-eleitorais, perderam a oportunidade de surpreender o eleitor explorando as amplas possibilidades que se armam nas relações políticas com a vitória de uma candidata que nunca havia disputado uma eleição, cuja biografia tinha tudo para reduzir suas chances de vitória – dado o conhecido conservadorismo da imprensa e de grande parte do eleitorado – e que foi vítima de uma campanha sórdida e preconceituosa.
Não há como dissimular o papel da imprensa tradicional no jogo sujo que termina. Também fica difícil disfarçar o ressentimento da imprensa com o resultado das urnas. Não há análise, por mais que se pretenda distanciada, que esconda o fato de que a imprensa tradicional foi fragorosamente derrotada nestas eleições.
Não há como dissimular o papel da imprensa tradicional no jogo sujo que termina. Também fica difícil disfarçar o ressentimento da imprensa com o resultado das urnas. Não há análise, por mais que se pretenda distanciada, que esconda o fato de que a imprensa tradicional foi fragorosamente derrotada nestas eleições.
- Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa
Os principais jornais do país anunciam a vitória da candidata petista Dilma Rousseff como a última obra do presidente Lula da Silva. O Estado de S. Paulo é o mais explícito: "A vitória de Lula", diz a manchete.
O Globo se arrisca em adivinhações: "Lula elege Dilma e aliados já articulam sua volta em 2014", diz o jornal carioca. A intenção é claramente minimizar o cacife político da presidente eleita. Já a Folha de S.Paulo destaca o fato de o Brasil ter escolhido a primeira mulher e “primeira ex-guerrilheira" para a Presidência da República.
Lendo as edições do domingo e de segunda-feira (1/11), alguém que estivesse desembarcando no Brasil depois de três meses de viagem nem chegaria a desconfiar que a imprensa havia sido, até a véspera, protagonista das mais ativas na campanha eleitoral.
Desejo manifesto
Os jornais inauguram a semana pós-eleitoral com cara de jornais, não dos panfletos em que se transformaram nos últimos meses. Cada um conforme seus recursos, os diários tentam interpretar a vontade das urnas e adivinhar o que virá a ser o futuro governo. No entanto, alguns pontos em comum podem ser ressaltados.
A chamada grande imprensa procura afirmar que a oposição, apesar de derrotada na eleição principal, cresceu em número de eleitores, mesmo perdendo na maioria dos estados. A maioria feita pela candidata governista no Congresso Nacional seria equilibrada pela eleição de governadores oposicionistas nos estados mais populosos, segundo interpretam os jornais.
Como sempre, o viés ideológico direciona as escolhas da imprensa, que perdeu a disposição para arriscar opiniões fora da sua própria caixinha de convicções. Basta lembrar como foi a manada de adesões ao governo central nas duas eleições do presidente Lula da Silva para colocar em dúvida as afirmações dos jornais sobre a suposta solidez do bloco oposicionista.
Com o histórico do adesismo que marca a República desde a redemocratização, parece arriscado demais apostar em configurações de forças políticas com base no resultado quente das urnas. No caso, essas análises representam muito mais a manifestação dos desejos da imprensa, de não parecer assim tão derrotada pela realidade da votação, do que a expressão de uma visão realista do resultado eleitoral.
Dissimulando a derrota
Os jornais citam o desgaste que foi produzido nas bases da oposição por conta de divergências entre o candidato derrotado José Serra e o senador eleito de Minas Gerais Aécio Neves, considerado por analistas do próprio PSDB como o grande trunfo desperdiçado pela campanha oposicionista.
Sobram indícios de que os dois personagens criaram um fosso intransponível entre si, e que daqui para frente a consolidação da carreira de Aécio Neves implica a diminuição do papel a ser exercido por Serra.
Some-se a isso o fato de que Serra também tem divergências com o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, para se construir uma análise muito menos animadora sobre o seu futuro como líder da oposição. Além disso, ainda resta dentro do armário o esqueleto do suposto dossiê que teria sido montado no período da escolha do candidato do PSDB, e que teve como objetos de bisbilhotices pessoas ligadas a José Serra.
Serra perdeu em Minas Gerais e ninguém sabe quanto desses votos foram para a candidata oposicionista como vingança dos mineiros pela maneira como ele passou por cima das ambições políticas de Aécio Neves.
A imprensa também destaca que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, anda fazendo planos para se descolar de seus padrinhos políticos e prepara o lançamento de um novo partido, montado com os restos da liderança do peemedebista Orestes Quércia no estado.
Assim, em poucas linhas, pode-se observar que os principais jornais do país, que tiveram praticamente todo o final de semana para preparar suas análises pós-eleitorais, perderam a oportunidade de surpreender o eleitor explorando as amplas possibilidades que se armam nas relações políticas com a vitória de uma candidata que nunca havia disputado uma eleição, cuja biografia tinha tudo para reduzir suas chances de vitória – dado o conhecido conservadorismo da imprensa e de grande parte do eleitorado – e que foi vítima de uma campanha sórdida e preconceituosa.
Não há como dissimular o papel da imprensa tradicional no jogo sujo que termina. Também fica difícil disfarçar o ressentimento da imprensa com o resultado das urnas. Não há análise, por mais que se pretenda distanciada, que esconda o fato de que a imprensa tradicional foi fragorosamente derrotada nestas eleições.
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