sábado, 28 de novembro de 2009

Mídia: Quem não tem honestidade precisa de credibilidade

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- por André Lux, secretário de Comunicação do PCdoB Jundiaí

Abordarei uma questão que vira e mexe vem à tona quando se fala em imprensa e jornalismo: credibilidade.

Mas, afinal de contas, o que é esse negócio de credibilidade? Existe alguma forma de medir ou comprovar credibilidade? Será que um jornalista tem mais credibilidade que outro só porque usa terninho e gravata e passa gumex no cabelo?

O debate sobre credibilidade na mídia, em minha modesta opinião, é uma farsa. “Credibilidade” é apenas mais um conceito subjetivo que foi transformado num slogan por publicitários para enfeitar as peças de marketing da mídia corporativa. É idêntico a “Imparcialidade”.

Para mim, muito mais importante que credibilidade é honestidade. Isso sim é algo que pode ser medido e comprovado. Por exemplo. Tem gente que acha que eu não gosto da Veja ou da Folha de S.Paulo só porque elas falam mal do governo Lula e de qualquer outra coisa que cheire a esquerda ou que vá contra o sistema capitalista selvagem que impera no país.

Errado. Eu repudio esses veículos e todos os outros que seguem a mesma linha deles por um único motivo: eles não são honestos. Mas em que eles não são honestos? Simples, eles mentem no que deveriam ser o mais transparentes possível. O problema não é eles serem contra o Lula, o Chávez, o Che Guevara, o diabo a quatro. O problema é eles dizerem não são contra nem a favor de ninguém. São “imparciais”, “isentos”, “apartidários”.

A Folha de S.Paulo, que parece estar querendo superar a Veja no quesito “jornalismo de esgoto”, afirma em suas peças de marketing que “Tem rabo preso com o leitor”. Ora, mas qualquer pessoa de bom senso sabe que o grupo Folha tem rabo preso com tudo, menos com o leitor. Esse pobre coitado é o que menos interessa à máfia que comanda esse grupo midiático. Para eles, leitor é sinônimo de “consumidor idiota”, não passa de um número, uma estatística que, por sinal, está diminuindo a cada dia para eles!

A Veja, o expoente máximo do esgoto jornalístico atual no Brasil, afirma ser “Indispensável” em suas campanhas publicitários. Olha, eu nem encosto na Veja com medo de pegar alguma doença incurável, tipo Racismo ou Homofobia, há no mínimo 10 anos e continuo muito bem informado sobre tudo que acontece no mundo. Posso garantir com tranqüilidade, portanto, que a Veja pode ser muito coisa, menos “indispensável”.

Honestidade, senhoras e senhores. Essa a chave para entender porque a blogosfera está batendo de frente e, muitas vezes, superando essa mídia que se acha grande, porém é de uma pequenez monumental.

Eu não quero que o Arnaldo Jabor seja censurado. Pelo contrário. Deixem-no falar suas nojeiras o quanto quiser. O que eu queria do Jabor é só uma coisa: honestidade. Queria ver esse pobre coitado dando entrevistas ou abrindo seus comentários com algo do tipo: “Sou um ex-cineasta frustrado que, depois de fazer meia dúzia de filmes pornôs metidos a besta que nem a própria mãe viu, percebeu que só conseguiria sobreviver alugando suas opiniões de bufão para quem pagasse mais. Assim, se pagarem bem, falo mal até dela, da minha mãe”.

Pronto. Depois disso, o Jabor poderia falar e escrever o que quisesse. Vai ler e ter orgasmos com o lixo dele quem se identificar com aquilo. E bola pra frente. Chega de dizer que o Jabor (ou qualquer outro vomitador de opinião como ele) tem “credibilidade”. Tem porcaria nenhuma! Quem fala que ele tem credibilidade são as peças de marketing produzidas por quem paga o salário dele e precisa vendê-lo aos incautos como algo “indispensável”.

Vejam o caso do Ricardo Noblat. O sujeito está naufragando. Perdeu sua credibilidade. Mas, perdeu por quê? Por que é cabo eleitoral do PSDB (Partido Só De Bacana) e do DEMo? Por que cometeu um monte de “barrigas” em suas “notícias”? Não. O coitado perdeu a “credibilidade” porque enganou seus leitores. Recebia grana do Senado para fazer um programa qualquer lá e omitiu esse fato. Receber grana do Senado é pecado? Não. Mas omitir esse fato e posar de “imparcial”, “isento”, “defensor da moral e dos bons costumes” é.

Por isso eu sempre faço questão de dizer que não tenho credibilidade. Não tenho mesmo. Credibilidade é uma qualidade que está fora da pessoa. Não sou eu que tenho credibilidade. É outra pessoa que vai acreditar em mim ou não. E ela só vai acreditar em mim se eu for honesto. Ponto.

Todo mundo que entra no meu blog vê logo de cara qual é a minha ideologia, os partidos políticos que apoio e os que repudio (e os motivos disso), minhas crenças e lutas. Enfim, ninguém vai ver-me aqui posando de imparcial, isento, apartidário, apolítico, dono da verdade, defensor da moral e dos bons costumes... Eca!

E outra: eu escrevo lá porque gosto. Nunca ganhei um tostão furado com meu blog. Pelo contrário. Quando vou cobrir uma manifestação como aquela contra a Folha, vou com meu carro e pago tudo do meu bolso. Não tenho compromisso com ninguém. E se tivesse, diria claramente.

Quando fui ao Fórum Mídia Livre no Rio de Janeiro, explicitei na minha postagem que fui a convite da revista Fórum, que me pagou a passagem e o hotel. Além disso, me pagaram uns trocados pelas fotos que tirei no evento e foram publicadas na revista. E só. Mas isso nem tem nada a ver com o meu blog, mas sim com minha profissão.

Muitos vão dizer: “Tá, mas você só fala bem de revistas como Carta Capital, Fórum, Caros Amigos ou Revista do Brasil porque elas falam bem do PT e mal do PSDB”. Errado! Eu leio essas revistas obviamente porque tenho afinidade ideológica com sua linha editorial, mas acima de tudo, porque elas deixam bem claro em editoriais quais são as ideologias que defendem e quais as que repudiam. Elas não tentam convencer ninguém de que o que defendem ou repudiam é uma “verdade absoluta” ou um “fato imparcial”. Pelo contrário. Deixam bem claro, sejam nas matérias ou nas opiniões, que estão escrevendo a partir daquele ponto de vista que já explicitaram anteriormente.

Isso é bem diferente daquelas pessoas que consomem a Veja e o Jornal Nacional, justificando que fazem isso porque são veículos que “têm credibilidade”. Mentira! Gostam desse tipo de mídia porque divulgam aquilo que elas gostam (ou acham que gostam) de ler e ouvir. Ou seja, identificam-se com suas linhas editoriais conservadoras e reacionárias, porém nunca vão admitir isso. Nem os consumidores nem os produtores midiáticos.

Ficam ambos num jogo ridículo de “Eu finjo que sou imparcial e você finge que acredita, e vamos continuar metendo o pau na esquerda em favor da exploração do homem pelo homem, pelo bem do meu patrão”.

É por essas e outras que a mídia corporativa e seus jagunços se apegam tanto a essa palavra “credibilidade”. Porque eles sabem muito bem que no quesito “honestidade” eles levam uma verdadeira surra de qualquer Zé Mané da blogosfera ou da mídia independente.

E é por isso também que não vêem a hora de botar a gente pra correr e calar as nossas bocas. Honestidade faz muito mal aos negócios deles, essa que é a verdade...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Edgar Borges Júnior analisa o discurso de um jovem Tucano

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- por Edgar Borges Júnior, Historiador e Secretário de Juventude do PCdoB Jundiaí

Um dos exercícios mais interessantes que realizávamos na faculdade de História era analisar o discurso e os escritos de uma pessoa, a luz de sua posição no mundo, e ver como o seu lugar social influenciava em suas opiniões acerca de diversos assuntos.

Assim, é possível tirar desta análise idéias e princípios que estejam disfarçados no texto e conseguir apreender como funciona o pensamento daquele grupo o qual o autor do texto pertence.

Ao topar com um artigo publicado no Blog Mais Atitude!, do jovem tucano Márcio Ferrazzo, já proeminente dentro do PSDB e que ocupa o cargo de Assessor Especial da Juventude na Prefeitura do Município (governada desde 1993 pelo PSDB), resolvi fazer o referido exercício.

O artigo é pautado por curtas notas acerca de vários assuntos, e duas interessam ao nosso estudo. Irei transcrevê-las e depois analisá-las:

"Idéias ao ar livre

Insisto que os mecanismos tradicionais de participação política não darão conta do enorme desafio de mobilizar a sociedade para de fato participar. Os partidos políticos tomaram de assalto os sindicatos, as entidades estudantis, os movimentos sociais, enfim, e desvirtuaram suas causas. Por isso, iniciativas como o portal “Cidade Democrática”, destinado à livre manifestação por parte dos cidadãos acerca dos problemas da cidade, podem — caso de fato resistam à sanha dos que, lobos em pele de cordeiro, se enveredam na caça aos votos — contribuir para os novos ares de que tanto necessitam nossos pulmões.

Política sem massa encefálica

A comunidade de Jundiaí no orkut é um exemplo clássico de ar rarefeito para o arejar de idéias. A predominância é de internautas radicais, que só por serem ligados aos partidos de oposição, revestidos de bordões como PIG (Partido da Imprensa Golpista), nutrem verdadeira raiva pelo PSDB. Cheguei a postar com freqüência, até cometi excessos movido pelo ambiente inóspito, hoje acompanho de longe e volta e meia eles chamam para a briga, feito moleques, questionando a minha ausência."


Eis aí os dois excertos do artigo do jovem tucano. Eis o link para a consulta de todo o artigo:
http://marcioferrazzo.blogspot.com/2009/11/coluna-do-jornal-da-cidade.html

Infelizmente nós, historiadores, muitas vezes não conseguimos produzir textos inteligíveis e curtos. O cabedal de conhecimento por nós acumulado não permite que uma análise de discurso seja feita em dois parágrafos. O processo é lento, gradual e longo. Vamos a ele.
A primeira frase do artigo “Idéias ao ar livre” (título interessante para o artigo, que se relaciona com os ares que necessitam alguns pulmões) é das mais reveladoras do discurso de um tucano. “Insisto que os mecanismos tradicionais de participação política não darão conta do enorme desafio de mobilizar a sociedade para de fato participar”. A priori, como discordar de que novos mecanismos que aproximem a política do cidadão se fazem necessários? Ainda mais a luz das novas tecnologias de comunicação e informação trazidas pelo advento da internet, claro esta que novas formas de mobilização da sociedade para a participação política não só são necessárias como também plenamente possíveis. Só ao final do artigo é que o autor vai esboçar como poderia ser essa forma inovadora de participação. Prossigamos.

A segunda frase é a chave para entender como funciona o discurso tucano: “Os partidos políticos tomaram de assalto os sindicatos, as entidades estudantis, os movimentos sociais, enfim, e desvirtuaram suas causas”. Trocando em miúdos, não deixa de ser um resmungo, típico de FHC: como a mensagem que nós, tucanos, temos a transmitir para a sociedade não é aceita por essas entidades (a não ser alguns sindicalistas pelegos de quando o FHC era presidente) e outras idéias trazidas por outros partidos são melhor aceitas pelos sindicatos, movimento estudantil e movimentos sociais como o MST, então o caminho é desqualificar as entidades. Elas teriam se afastado de suas lutas históricas e foram cooptadas por partidos com interesses outros. Contudo, quando o PSDB estava no poder, nunca se preocupou em atender minimamente os anseios dessas organizações, a não ser para cooptar lideranças das formas que todos podem imaginar e acabar com as lutas dessas instituições. Basta dizer que em oito anos de presidência FHC nunca recebeu a UNE para conhecer e negociar suas pautas. Agora, como essas entidades estão totalmente afastadas do tucanato, partem pra desqualificação: a UNE que recebe verba pública ou da Petrobras, criam CPI pra criminalizar os sem-terras quando estes invadem terras griladas da União. Mas nunca se preocuparam em atender de forma séria e respeitosa as reinvidicações destas entidades.

Vamos então para o final do 1º artigo. O autor saúda um mecanismo onde a população pode participar enviando propostas e apontando problemas da cidade para um site que reúne as sugestões e de onde se espera que o poder público consulte e realize alguns daqueles apontamentos. E faz o alerta supremo: “podem — caso de fato resistam à sanha dos que, lobos em pele de cordeiro, se enveredam na caça aos votos — contribuir para os novos ares de que tanto necessitam nossos pulmões”. De alguma forma, não deixa de ser uma precaução: se os movimentos citados acima estão todos afastados do PSDB, o mesmo pode ocorrer com o Cidade Democrática.

Aqui, cabe relatar uma situação da qual participei. Em torno de 2007, a comunidade “Jundiaí”, no Orkut, discutia diversos problemas da cidade, até que os participantes resolveram se encontrar pessoalmente, em happy-hours, para se conhecer e levar aquela discussão para o “mundo real”. E isso chamou a atenção da mídia da cidade, que foi cobrir os encontros. Um dos pontos mais discutidos era a Câmara Municipal, em especial o horário de sua sessão, manhãs de terça-feira, impossibilitando maior participação popular. O presidente da Câmara na época, o tucano Luis Fernando Machado, chamou o grupo para se reunir com ele e ouvir o que tínhamos a dizer da Câmara. No encontro, no plenário da Casa de Leis, fomos presenteados com um tomo com as constituições federal e estadual e um livrinho com o regimento interno da Casa. O encontro foi ameno e ele explicou que estudava votar um novo regimento, onde os horários da sessão e das audiências públicas iriam para as noites, ainda que isso acarretasse maior gasto com eletricidade e hora-extra dos funcionários da Câmara. E isso iria para votação, para apreciação de seus pares, e caberia à sociedade pressionar os vereadores para que as mudanças fossem consumadas. Aquela legislatura acabou e esses temas nunca foram votados.

Após algum tempo, aquele grupo perdeu força. Todos tinham que se dedicar as suas atividades profissionais e a política acabou ficando pro Orkut mesmo, como forma de passatempo. Mas o episódio me ensinou algo muito valioso: ainda que novas formas de mobilização sejam louváveis, só fazendo a luta dentro da instância indicada, um partido político, é que se pode levar a cabo as mudanças que se entende como necessárias a sociedade, conquistando as instâncias de poder dentro de eleições democráticas. Fui convidado para ingressar no PC do B da cidade e agora ocupo um cargo na executiva do partido (secretário de Juventude), onde tenho a percepção de que é um caminho mais propício para realizar as mudanças que ensejo. Pessoas organizadas sem uma bandeira partidária podem até ter as melhores das intenções, mas bastam algumas manobras do poder público para que o grupo se enfraqueça ou que sua legitimidade seja questionada. Se isso não ocorrer com o Cidade Democrática e outros projetos do gênero que existem na cidade, como a ONG Voto Consciente, muito melhor pro município de Jundiaí.

Voltando ao artigo de nosso amigo tucano. A idéia parece interessante: cidadãos reunidos em torno de um site apontam problemas e propostas e o poder público local se coloca para consultar o site e resolver essas questões. Fica a pergunta: será que esses gestores públicos tomarão a atitude de consultar tal ferramenta e dar uma resposta aos cidadãos que lá participam?

Para finalizar com esse primeiro artigo, diria ao tucano para dormir tranqüilo. O pessoal que cuida do Cidade Democrática é crescido e maduro o suficiente para não cair nas garras desses homens maus que tem interesses eleitoreiros. E se um dia essas pessoas resolverem ingressar em algum partido político para realizar as mudanças que consideram necessárias, devem ter esse seu direito respeitado. Ainda que novas ferramentas de mobilização sejam necessárias, a instância legítima para a luta política ainda são os partidos.

O segundo artigo é sobre essa comunidade Jundiaí no Orkut que já citei. Ele coloca essa instância como local de ar rarefeito para o arejar de idéias. Provavelmente, um lugar onde pulmões que de ar precisam não irão encontrá-lo, pra relacionar com idéias do artigo anterior. Um local sem massa encefálica, como diz o título. E a causa disso seriam internautas radicais. O termo radical vem do latim radix, que significa raiz. Mas raiz existe em diversos contextos. Plantas tem raiz. Matemática tem raiz. As palavras também tem raiz. Problemas também tem suas raízes. O que seria, então, um internauta radical? Alguém que navega na internet 24 horas por dia? Ou alguém que usa o teclado do computador como shape de skate para fazer manobras radicais numa pista para a prática desse esporte? Mas ele logo define o seu radical: “internautas radicais, que só por serem ligados aos partidos de oposição”.

Aí esta. Para o tucano, ser radical é pertencer a um partido de oposição. Quem é filiado ao PSDB, Democratas ou PPS seria o que então? Um internauta moderado?

Então, ele coloca que nós, radicais da oposição, nos revestimos de bordões para expressar nossa raiva do PSDB. De minha parte, não nutro nenhuma raiva do PSDB, apenas me dou ao direito de não gostar do que esse partido defende. Não tenho ódio de FHC, Serra ou Miguel Haddad, para citar a política local, apenas não gosto do projeto que eles representam. Não costumo fazer muito uso de bordões, apenas quando quero me fazer entender facilmente e sei que o bordão é amplamente conhecido. Chamar os filiados do PSDB de tucanos é um destes casos.

O tucano deveria se perguntar não o porquê de internautas radicais da oposição terem raiva do PSDB (se é que esta raiva existe), mas sim porque o povo brasileiro não concorda com o projeto que eles apresentam. Retiro da Folha Online:

“No Brasil, 64% quer maior controle do governo na economia
A pesquisa feita a pedido da BBC em 27 países e divulgada nesta segunda-feira revelou que 64% dos brasileiros entrevistados defendem mais controle do governo sobre as principais indústrias do país. Não apenas isso: 87% dos entrevistados defenderam que o governo tenha um maior papel regulando os negócios no país, enquanto 89% defenderam que o Estado seja mais ativo promovendo a distribuição de riquezas.”

Pois é. Não são internautas radicais que tem raivinha do PSDB. O povo é que não se vê contemplado dentro do projeto neoliberal que o PSDB apresenta, como mostra essa pesquisa recém divulgada.

Óbvio que dentro de uma comunidade do Orkut, pessoas se aproveitam da liberdade que o mundo virtual promove para destilar veneno e agir imaturamente contra esta ou aquela agremiação política, esta ou aquela pessoa, conforme o tipo de participação que cada um tem no universo virtual. O autor deveria ter citado alguns episódios dos quais ele participou no Orkut e saiu chamuscado, para contextualizar o seu resmungo. Cito três.

Há alguns meses, o tucano, que tem seu trabalho na prefeitura através de um cargo de comissão, foi por mim questionado por postar em rede social (Orkut) para defender seu partido em horário que o mesmo deveria estar dando expediente, já que era pago com dinheiro público. Me atacou, dizendo que eu estava baixando o nível do debate (pois vários outros internautas radicais passaram a questioná-lo), como se questionar a maneira como um funcionário público gasta seu tempo de trabalho seja baixar o nível da discussão, mas passou a respeitar o horário de expediente público para postar na comunidade. O outro episódio é mais complexo.

Ocorreu uma ação policial na maior favela de Jundiaí, o São Camilo, tomada pelo tráfico e pelo PCC (cujo eufemismo é facção que age dentro e fora dos presídios, para todos acharem que o PCC acabou) onde policiais e promotores públicos de fora da cidade afirmaram que a situação só chegou ao ponto de exigir interferência externa porque o poder público não se fez presente naquela comunidade (lembrete: PSDB governa Jundiaí desde 1993). Até a apresentadora do jornal local da TV Tem, afiliada da Globo, questionou o prefeito por ele ter sumido durante dias e não explicar o que pretendia para o local. Pois bem, começamos a discutir o assunto na comunidade, onde afirmei que o São Camilo não tinha creches. O tucano em questão veio me desmentir, de maneira peremptória, dizendo que haviam duas creches municipais no local. Fui ao site da Prefeitura de Jundiaí ver a lista de creches e não constava nada sobre o São Camilo. Postei isso na comunidade, e Márcio Ferrazzo veio com o nome de duas creches que ficariam no local. Entrei novamente no site, nesta lista, e vi que as duas creches estavam localizadas em dois bairros diferentes. Utilizando o Google Maps, vi que as duas creches eram relativamente próximas ao São Camilo, mas não estavam nessa comunidade (na verdade, estariam no bairro que conhecemos como Vila Aparecida, aqui em Jundiaí, e que foram subdivididos ao longo dos anos). Para confirmação final, liguei nas duas creches, perguntando as secretárias que atenderam se as mesmas ficavam no São Camilo, e ambas disseram: não é no São Camilo, mas é próximo. Desmentido por mim, o tucano iria fazer suas aparições de forma cada vez mais rarefeita, até sumir por completo da discussão daquela comunidade.

Para ser justo com o Márcio Ferrazzo, houve um episódio no Orkut em que algumas pessoas foram realmente injustas em sua crítica contra ele. Ele veio relatar o sucesso do show Reencontro, que ele promoveu e realizou na Sala Glória Rocha, e alguns mais exaltados o criticaram de maneira infantil e injusta. Apontei esses erros naquele tópico e elogiei o Márcio pela idéia e o parabenizei pelo sucesso do evento. Criticar é parte do processo de discussão da política ou de qualquer outro assunto, mas quando alguém que é de um campo político oposto realiza algo relevante, não é feio elogiar. Apenas se é justo procedendo dessa maneira.

De qualquer forma, entendo que isso não configura um motivo realmente forte para que se abandone o debate público naquela ferramenta (Orkut), já que é uma comunidade que conta com mais de 20 mil membros e é a rede social mais popular do Brasil e vez ou outra ganha às páginas dos jornais locais, como citei acima.

Mas não deixa de ser exemplar da maneira de proceder dos tucanos. Como não tiveram sucesso em engessar e imobilizar as discussões naquela comunidade (e coloco no plural, pois o Márcio não é o único comissionado a se manifestar por lá) agora se repete o processo de desqualificação da ferramenta, povoada de “internautas radicais, ligados aos partidos de oposição”. Como se fazer parte de um partido político desqualificasse o cidadão para as discussões públicas. Como ocorreu de os tucanos estarem sendo amplamente questionados naquela comunidade, pois vários destes comissionados se colocaram a disposição para defender seu partido e o governo de Jundiaí e agora não dão conta de responder todos os questionamentos com qualidade, parte-se para a desqualificação do espaço e de todos os que pretensamente são internautas radicais. Bastante ilustrativo do modus operandi tucano em qualquer escala.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Marighella é lembrado como herói nos 40 anos de sua morte

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Morto pelas forças repressoras numa emboscada no dia 4 de novembro de 1969 em São Paulo, Carlos Marighella, ex-guerilheiro e fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), teve os 40 anos da sua morte lembrados em todo país. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o chamou de herói nesta terça (3) em Olinda, o ex-deputado comunista constituinte em 1946 recebeu homenagem no plenário da Câmara dos Deputados.

Autor do livro “Carlos Marighella: o Inimigo Número Um da Ditadura Militar” (Editora Casa Amarela- 2004, SP, 244 pp), o deputado Emiliano José (PT-BA) usou os 30 minutos reservados ao grande expediente da Casa para ler um manifesto em homenagem ao guerrilheiro, documento encabeçado pelo intelectual brasileiro Antonio Candido e assinado por outros intelectuais e trabalhadores.

Nele, o deputado diz que é preciso enfrentar as forças reacionárias e conservadoras que defendem como legítima uma lei de auto-anistia que a ditadura impôs, em 1979, sob chantagens e ameaças.

“Sentindo-se ameaçadas, estas forças renegam as serenas formulações e sentenças da ONU e da OEA indicando que as torturas constituem crime contra a própria humanidade, não sendo passíveis de anistia, indulto ou prescrição. E se esforçam para encobrir que, no preâmbulo da Declaração Universal que a ONU formulou, em 10 de dezembro de 1948, está reafirmado com todas as letras o direito dos povos recorrerem à rebelião contra a tirania e a opressão”, leu o deputado.

O documento destaca ainda que por outros caminhos e novos calendários, abre-se a possibilidade real do nosso país realizar o sonho que custou a vida de Marighela e de inúmeros heróis da resistência. “Garantida a nossa liberdade institucional, agora precisamos conquistar a igualdade econômica e social, verdadeiros pilares da democracia”.

“Por tudo isso, celebrar a memória de Carlos Marighella, nestes 40 anos que nos separam da sua covarde execução, é reafirmar o compromisso com a marcha do Brasil e da Nuestra America rumo à realização da nossa vocação histórica para a liberdade, para a igualdade social e para a solidariedade entre os povos”, discursou.

Comunista como Jorge Amado

O líder do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA), lembrou que Marighella foi um comunista como Jorge Amado e “tantos outros”. Disse que na Câmara o ex-guerrilheiro foi um firme defensor das melhoras causas e pagou por tudo isso com o próprio mandato, “mas não arriou jamais a bandeira, suas convicções”.

“Foi assim no período da ditadura militar, em que, na clandestinidade, organizou o nosso povo, a nossa juventude e os trabalhadores, acreditando que um dia poderíamos ter um espaço mais democrático, uma sociedade com maior liberdade para construir isso que começamos a construir agora”, disse.

“Não fossem a coragem e a disposição de colocar a própria vida em jogo, não chegaríamos ao regime democrático de hoje. Queríamos avançar muito mais, porém não conseguimos. Se isso não acontecesse, fico pensando como seria este país hoje. Como chegaria ao poder um operário? Como gente popular estaria nesta Casa?”, disse Chico Lopes (PCdoB-CE).

O deputado José Genoíno (PT-SP) lembrou do resgate feito pelo colega de bancada sobre a memória da esquerda no país ao publicar dois livros importantes para o estudo, compreensão e análise sobre Marighella e o Capitão Lamarca.

Pedro Wilson (PT-GO) aproveitou para homenagear Marighella com uma poesia feita pelo poeta Juscelino Mendes: “Há um olhar lá da costa / Que se põe em mim e roga:/ Um sentir sem temporais.../E de ondas secretas / Terra em transe: Guerrilha/ Urbana, Ana! Emboscada na alameda/ Casa Branca manchada de sangue/ Atiraram nas Letras Nacionais /Naquele novembro de quatro/ E entregue à Casa Branca!”

Da Sucursal de Brasília,
Iram Alfaia