segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Eco Dos Gritos Das Ruas

A União da Juventude Socialista (UJS) e a União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) consideram que a manifestação realizada na última quinta-feira (17) obteve o êxito previsto.
O ato representou o início da campanha que a UJS irá lançar na próxima semana em prol do passe livre, além de salientar a posição do movimento estudantil quanto ao aumento da tarifa do trem e o possível aumento da tarifa do ônibus.

A juventude está na vanguarda da maioria das lutas do povo brasileiro. O grupo que governa São Paulo tem mostrado ao longo das últimas duas décadas que não se preocupa com o impacto que certas ações acarretam na população, por isso a UJS e a UPES consideram que ir para as ruas é essencial para a defesa do povo paulista, em loco, dos estudantes e dos trabalhadores.

Cerca de 45 estudantes participaram do ato, que percorreu o centro de Jundiaí até chegar à estação ferroviária. Para o presidente da UJS, Brean de Souza Pinto, 19, Jundiaí já tem uma das tarifas de ônibus mais altas do país e não pode aumentar o valor que atualmente é R$ 2,65.
A Prefeitura de Jundiaí informou, por meio de assessoria, que não há previsão de reajuste da passagem de ônibus. O último aumento da tarifa de transporte coletivo urbano ocorreu em 4 de abril de 2010, quando o valor cobrado passou de R$ 2,50 para R$ 2,65. Sobre o passe livre, a Secretaria Municipal de Transportes informou que oferece aos estudantes do ensino fundamental, médio e superior isenção de 50% no valor da tarifa de ônibus, mediante comprovação de matrícula em instituições de ensino regulares reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC).

A primeira vitória já foi obtida, pois a prefeitura se manifestou dizendo que não há previsão para o aumento da tarifa dos ônibus, mas a pressão irá permanecer por parte da UJS e da UPES a fim de garantir que o aumento não ocorra. Caso ocorra, será a prova que a prefeitura de Jundiaí engana os cidadãos.

Passe Livre
Quanto ao passe livre estudantil, a prefeitura declarou que já disponibiliza isenção de 50% aos estudantes, mas a reivindicação é de que a isenção seja de 100%, como ocorre em algumas cidades do estado. “Aproveitamos para reivindicar o passe livre estudantil, que é uma das bandeiras nacionais do movimento estudantil, da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), pois se trata de um grande incentivo para a educação, pois muitos jovens deixam de estudar por não haver condições de financiar transporte, ademais a educação não limita aos muros escolares, mas transcende ao cinema, teatro, biblioteca, parques e alguns outros lugares que os estudantes só têm acesso pelo transporte público. Este direito já foi conquistado em algumas cidades como Americana, por exemplo, e Jundiaí devido a sua força econômica também tem condições”, disse o presidente da UJS, Brean.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Manifesto de lançamento do “Movimento Jundiaí Livre”

O Movimento Jundiaí Livre é formado por cidadãos e cidadãs de diversos setores da nossa sociedade, que compartilham dois objetivos em comum: tornar a nossa cidade mais democrática e socialmente inclusiva. Envolve entidades e pessoas que amam Jundiaí. Pessoas nascidas, criadas ou que escolheram esta terra para levar a vida e cuidar de suas famílias. Que acreditam na democracia e na soberania popular para decidir seus caminhos.

Jundiaí possui um incrível potencial. Situada entre as duas das mais importantes cidades do Brasil, tem o privilégio de ser servida por grandes rodovias, como a Anhangüera e a Bandeirantes. Além disto, conta com reservas naturais significativas, fontes de água, como rios, represas e a Serra do Japi, um patrimônio da flora e da fauna. Esta é uma situação privilegiada e que pode beneficiar nossa cidade e toda população.

Mas, infelizmente, temos visto a falta de planejamento, o poder econômico e a especulação imobiliária desgastarem dia após dia a esperança de vermos efetivamente uma cidade que contemple o desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural de nosso povo. Um mesmo grupo governa esta cidade por longos vinte anos consecutivos, articulando interesses econômicos e políticos de um pequeno grupo em detrimento dos mais de 370 mil habitantes de Jundiaí. Isto é algo que gravemente nos preocupa.

Não apenas a falta de alternância no poder que justifica esse tipo de análise, mas, principalmente, o modo como se executa a continuidade política e os métodos utilizados para a dominação política local. Um grupo no poder que se perpetua através do uso da burocracia e do conhecimento da máquina política. Aproveitando-se do acesso a informações e da posição privilegiada na pirâmide do poder, a atividade política passa a ser exercida a fim de conseguir prosperar um projeto de continuidade nas esferas decisórias, tornando comum o uso privado do setor público. Esse grupo ainda estabelece o controle dos recursos financeiros conforme seu projeto de domínio; influencia os meios de comunicação e divulgação de informações para atender seus próprios interesses; barra novas iniciativas que possam expor ou colocar em risco sua manutenção no poder e busca deter por todos os meios qualquer movimento articulado de oposição, como acreditamos que também seremos vítimas. Mas resistiremos.

O grupo no poder também organiza a estrutura política em benefício de seu projeto de manutenção – ou seja, seus interesses não são os mesmos daqueles que deveria representar. Dessa forma, a participação dos indivíduos torna-se segmentada, limitada e amplia-se o poder da classe dirigente, o que permite que quaisquer resistências a estes mecanismos sejam minadas. Em Jundiaí, o trabalho para conseguir romper esta lógica é árduo, de tão enraizados que estão os mandatários locais, acostumados a tantas décadas de controle da política. Eles apenas trocam de siglas e de nomes, mas sempre representam os mesmos interesses.

Somos um Movimento de Oposição, consciente de nosso papel como agente político e capaz de mobilizar a sociedade para uma alternativa bastante diferente desta que esta colocada pelo Prefeito. Não queremos falar de eleições, mas inserir a população em debates sobre temas fundamentais, como educação, saúde, mobilidade urbana, entre outros. Desta forma, realizaremos nossos próprios debates, ouvindo e dialogando com toda a sociedade e apontando outros caminhos. Queremos chamar a juventude para esta discussão, pois sabemos o quanto Jundiaí precisa de políticas para jovens, com acesso ao esporte, cultura e lazer de qualidade, algo que não ocorre atualmente. O jovem quer participar da vida pública e necessita de espaços que lhe dêem esta condição verdadeiramente, sem as amarras do grupo no poder. Este Movimento convida o jovem para esta participação livre.

É hora de discutir uma alternativa de cidade: mais justa, sustentável e voltada para o interesse da maioria. Modificar essa realidade política sufocante e projetar um novo futuro para Jundiaí é uma exigência de vastos setores da sociedade e uma forma de honrar a luta e o trabalho, ao longo da História, de tantos cidadãos e cidadãs que se dedicaram à nossa cidade.

Assinam este Manifesto (Partidos em ordem alfabética):
Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
Partido dos Trabalhadores (PT)
União da Juventude Socialista (UJS)

Clique aqui e visite o blog do movimento Jundiaí Livre

Netinho: denúncias da Folha têm motivação política e visam 2012

“Para a gente, é tudo mais difícil; só quem
veio de lá é que sabe”, diz Netinho
Ao contrário do que foi noticiado pela Folha de S.Paulo nos últimos dias 15, 16 e 17, não há, por ora, nenhum dado concreto capaz de caracterizar como “fantasmas” as empresas que prestaram serviço ao vereador de São Paulo, Netinho de Paula (PCdoB).

A afirmação foi feita na tarde desta quinta-feira (17) pelo promotor Marcelo Daneluzzi. O vereador, por sua vez, diz não ter dúvidas de que as matérias têm “motivação política” e visam prejudicar sua possível candidatura para a Prefeitura em 2012.

“Eu ainda não me sinto confortável em dizer que essas empresas são fantasmas. Elas podem não estar no endereço constante no contrato social, mas pode ter havido alguma mudança e elas podem, de fato, existir. Então, ainda não tenho essa comprovação”, declarou Marcelo Daneluzzi em coletiva realizada no Ministério Público do Estado de São Paulo.

Ele está à frente de investigações envolvendo supostas irregularidades na prestação de serviços de empresas a três vereadores – além de Netinho, João Antônio (PT) e Carlos Alberto Bezerra (PSDB) –, ambos deixados de lado nas matérias do diário paulista. Segundo foi noticiado, as empresas Paulo Sérgio Rodrigues de Souza, Nilton de Souza Brandão Informática, PRS Informática e Mineral Comunicação e Imagem, prestadoras de serviço ao vereador comunista, teriam apresentado divergências em seus endereços. Ou seja, elas não funcionariam nos locais indicados nos contratos sociais e na Junta Comercial.

“Preciso checar se, de fato, essas empresas não estão sediadas no local constante do contrato social. Tenho informações parciais da Câmara sobre os contratos e pagamentos relativos a elas”, explicou Daneluzzi. De acordo com o promotor, a Câmara está sendo notificada a fim de prestar informações sobre o caso. Além disso, todos os envolvidos serão ouvidos pelo MP. Os vereadores prestarão esclarecimentos no começo de março.

“Arquei com o prejuízo”
Procurado pelo Portal Vermelho, Netinho de Paula disse que “se as notas deram problema, elas não geraram reembolso e se não houve reembolso, não houve dolo à Câmara. Eu é que arquei com o prejuízo”.

Para ele, o que está por trás das denúncias é a disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2012, para a qual ele é virtual pré-candidato. “Não tenho dúvida de que isso tudo tem motivação política. Isso fica bem claro, inclusive, com pessoas aqui da Casa mesmo que estão se utilizando de contatos dentro da Folha para vazar documentos da secretaria”, disse.

“A Folha publicou documentos que são da Secretaria da Câmara e não teriam como sair daqui. Ou seja, já tem todo um esquema montado para tentar desconstruir minha imagem e abrir caminho para outros candidatos”, acusou. E, referindo-se à sua origem humilde, declarou: “Para a gente, é tudo mais difícil; só quem veio de lá é que sabe”.

Netinho disse ainda que aguardará as investigações do Ministério Público antes de tomar qualquer providência legal. “A tentativa de desconstrução dessa mídia golpista que temos em São Paulo, através do MP, não vai prejudicar a relação que sempre tive com o meu povo. Espero que haja transparência nas investigações porque transparência é o melhor remédio para a injustiça”.

Carta à Folha
Nesta quarta-feira, 16, o vereador Netinho de Paula encaminhou carta à Folha de S.Paulo a fim de esclarecer os fatos noticiados pelo jornal. “Tenho prestado todos os esclarecimentos solicitados pelo órgão público e sempre agi dentro das normas e regimento estabelecidos e aprovados pela Câmara dos Vereadores”, escreveu.

No quesito de contratação de bens e serviços, destacou que “oriento o meu mandato a ter como conduta solicitar vários orçamentos para a pesquisa e análise de preços e qualidade dos mesmos, prática não exigida, nem orientada, pelo Manual de Procedimentos de Prestação de Contas do Auxílio-Encargos Gerais de Gabinete da Câmara”.

Mais adiante, apontou: “um vereador contrata serviços na boa fé própria e de seus contratados, compete a verificação da veracidade dos documentos apresentados à Equipe de Tomada de Contas da Câmara de acordo com o manual citado acima. O Tribunal de Contas do Município, como constou na matéria publicada em 16 de fevereiro de 2011, na Folha de S.Paulo sob o título “Câmara cobra explicações de Netinho sobre gastos oficiais”, também “considera a fiscalização dos gastos responsabilidade do controle interno da Câmara””.

Por fim, argumenta que “a decisão do que é ressarcido ao vereador da cidade de São Paulo é de exclusiva competência da Câmara de Vereadores não cabendo essa função ao parlamentar, conforme a Lei Municipal nº 14.381/07 em seu artigo 20 - parágrafo 10”.

De São Paulo, Priscila Lobregatte

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Estudantes protestam contra reajuste de trem em SP

Campinas - Ao menos 30 estudantes ligados à União da Juventude Socialista (UJS) e à União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) realizaram hoje manifestação pelas ruas de Jundiaí (SP) contra o aumento da tarifa de trem no último domingo, 13, de R$ 2,65 para R$ 2,90. O ato ocorreu simultaneamente a um protesto na capital, com mesmo objetivo.

Segundo informou o presidente da UPS, Tarcísio Boaventura, mais uma manifestação dos estudantes será realizada amanhã, em Guarulhos, e estuda-se um cronograma de protestos contra o aumento dos preços das passagens de transportes coletivos para até o fim de março.

Em Jundiaí, os manifestantes deixaram a Praça Governador Pedro de Toledo, no centro, e foram até a Câmara Municipal e seguiram para a estação ferroviária. Acompanhada pela Polícia Militar (PM), a passeata ocorreu de forma pacífica. "Protestamos também contra o possível aumento da tarifa de ônibus na cidade, que refletirá certamente em ao menos 18 municípios da região, e pedimos publicamente o passe livre para estudantes", afirmou o presidente da UJS em Jundiaí, Brean de Souza Pinto.

A Prefeitura de Jundiaí informou, por meio de assessoria, que não há previsão de reajuste da passagem de ônibus. O último aumento da tarifa de transporte coletivo urbano ocorreu em 4 de abril de 2010, quando o valor cobrado passou de R$ 2,50 para R$ 2,65. Sobre o passe livre, a Secretaria Municipal de Transportes informou que oferece aos estudantes do ensino fundamental, médio e superior isenção de 50% no valor da tarifa de ônibus, mediante comprovação de matrícula em instituições de ensino regulares reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC).

Fonte: UOL

Manifestação em repúdio ao aumento da tarifa do trem e pelo passe livre

A União da Juventude Socialista (UJS) em parceria com a União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) vão realizar hoje (17/02), uma manifestação em repúdio ao aumento da tarifa do trem em quase 10%, custando agora R$ 2,90, e o provável aumento da tarifa de ônibus do Sistema Integrado de Transporte Urbano (SITU).

A manifestação irá começar às 16h30min com uma concentração na Praçada Matriz, no centro da cidade, e irá seguir até a Escola Estadual Antenor Soares Gandra, até chegar ao seu destino final, a estação ferroviária.

Você trabalhador e estudante estão convocados a participar deste ato cívico.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Convite

Marcos Dantas: “A mídia reage como fera acuada”

Professor de Comunicação da UFRJ, Marcos Dantas é um respeitado teórico da comunicação e tem uma rica trajetória ativista. Nesta entrevista exclusiva ao Vermelho, ele nos fala da luta pela democratização das comunicações no Brasil de hoje.

- Por Wevergton Brito e Marcos Pereira, no site Vermelho

Filho de um veterano comunista, o militar da Aeronáutica Sebastião Dantas, já falecido, Marcos Dantas desde cedo se interessou por política. Iniciou sua militância no PCB, indo pouco depois para a Dissidência da Guanabara (DI-GB) que mais tarde seria rebatizada de MR-8.

Começa a trabalhar como jornalista em 1970, sem ter sequer, devido às circunstâncias militantes da época, concluído um curso superior, como gosta de frisar. Passou por alguns dos mais importantes jornais do Brasil, dentre estes o Jornal do Comércio, onde trabalhou com Aloysio Biondi, e O Globo.

Dantas orgulha-se, particularmente, de ter escrito, com ajuda do então presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro, o hoje deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) e do engenheiro e sindicalista Paulo Eduardo Gomes, hoje vereador em Niterói (RJ) pelo PSOL, o artigo que estabelecia o monopólio da Telebrás sobre as telecomunicações, depois revogado no governo FHC. “Tenho ódio eterno de FHC”, diz ele. “Imagina o orgulho que você pode sentir, ao abrir o livrinho da Constituição e poder dizer, 'este artigo fui eu que escrevi'”.

Em 2001, defende tese de doutoramento na Engenharia de Produção da COPPE-UFRJ, intitulada Os significados do trabalho. Toda sua investigação acadêmica sempre buscou relacionar os referenciais marxistas às transformações do capitalismo contemporâneo. Nesse entretempo, associando os compromissos políticos com as inevitáveis necessidades da sobrevivência, pôde participar de alguns momentos legislativos marcantes. Representando a Cobra (empresa de informática), esteve ativamente presente nos trabalhos da Constituinte de 1988, ajudando, junto com outros técnicos e professores, a redigir o capítulo sobre Ciência, Tecnologia e Comunicação.

Hoje Marcos Dantas é uma das principais referências do campo popular na luta pela democratização das comunicações, tendo representado a sociedade civil não-empresarial na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), como delegado do Estado do Rio. Clique aqui para conhecer um pouco mais sobre a trajetória de Marcos Dantas.

Vermelho - A mídia hoje está mais agressiva em defesa dos seus interesses?
Marcos Dantas: A mídia hegemônica está quantitativamente mais agressiva. É que a estrutura corporativa que temos hoje, no Brasil, consolidou-se por volta dos anos 1970, na esteira de importantes transformações pelas quais passava a sociedade brasileira àquela época. A sociedade está passando por novas e grandes mudanças políticas, econômicas, tecnológicas, culturais, que não podem ser atendidas por aquela estrutura. Ela não está sabendo acompanhar as mudanças. Então reage parecendo fera acuada. Mas, ao longo da história, ela sempre atuou como bloco. No período pré-64, por exemplo, toda a chamada “grande imprensa” (O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, etc.) apoiou o golpe. A única vez que a imprensa rachou foi na revolução de 1930, mas isso aconteceu porque a elite estava dividida e a imprensa expressou esse momento. Fora isso, a imprensa sempre atuou em bloco.

Vermelho - Muito se fala do poder de mobilização das novas ferramentas de comunicação. Alguns chegam a dizer que o que está acontecendo no Egito é a “revolução do twitter”. Como você vê esta questão?
MD: No Manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels escreveram que o telégrafo, então recém-inventado, seria um grande instrumento nas mãos do proletariado. Ou seja, cada vez que surge um meio novo e mais rápido de comunicações, surgem também essas esperanças revolucionárias. Evidentemente, Marx não era inocente. O que ele quis dizer é que quem inventou a telegrafia foi o capital, mas no momento em que essa tecnologia fica disponível, também as comunicações contra-hegemônicas podem ficar mais rápidas e mais baratas. O sujeito não precisava mais ir a pé ou a cavalo, de uma cidade para outra, para convocar os camaradas à luta. Tinha o telégrafo, tinha a ferrovia. Mas na mesma hora, claro, também tem a polícia esperando o militante na estação ferroviária. O meio continua nas mãos do capital! No caso do telégrafo, o que a burguesia fez? Adotou, em todos os principais países, leis que davam poder de censura ao funcionário dos correios, na ponta. Ele podia censurar uma mensagem se desconfiasse de alguma frase...

Na minha avaliação, a internet é o mais extraordinário panóptico que o capital já inventou. Tudo o que você escreve ali, pode ser visto por quem queira ver. Servidores de organizações como Google, Facebook e outras podem armazenar qualquer informação a respeito de qualquer internauta. É claro que eles preferem saber dos seus gostos e hábitos para lhe vender produtos e serviços. Mas talvez o FBI ou a CIA também gostem de saber dos seus gostos e hábitos... Há poucos anos, aconteceu um escândalo mundial, pouco divulgado no Brasil, devido a um sistema inventado pelos estadunidenses, denominado “Echelon”, pelo qual as suas grandes corporações podiam acompanhar as comunicações dos concorrentes e, com base nelas, tomar as decisões mais vantajosas.

Dizem que os EUA ganharam a licitação para montar o Sivam no Brasil graças a informações sobre os concorrentes obtidas via “Echelon”. Sei lá o que pode estar acontecendo agora nessa disputa pelos caças da FAB, mas eu não me admiraria em saber que as autoridades brasileiras, nas suas conversas a respeito, usam o Outlook Express, ou Gmail, ou Internet Explorer... Se você quer realizar uma revolução para valer, a primeira coisa a fazer é não usar internet. Nem celular. Os russos acertaram a cabeça de um líder checheno com um míssil guiado pelas frequências do seu telefone celular.

No fundo, essa prometida liberdade é um grande mecanismo de controle. Ela serve principalmente para falar muita abobrinha e, claro, para induzir comportamentos de consumo, como qualquer outro meio de comunicação. Mas isto não significa menosprezar ou desqualificar a internet. Uso muito, sou mesmo pioneiro (desde 1992, com linha discada) e já estudava o conceito de “ágora informacional” antes que a internet, enquanto tal, tivesse virado um fenômeno de massa no Brasil, depois de, não por acaso, ser apresentada ao país por uma novela da Globo. Certamente, o Google é uma extraordinária ferramenta de pesquisa. A minha velha Mirador, hoje em dia, apenas serve como belo enfeite de estante.

Trocar ideias pelo Twitter é muito interessante e divertido. É como uma reunião de amigos e amigas numa mesa de bar, todo mundo falando quase ao mesmo tempo frases entrecortadas, só que eu estou na minha casa, o outro no seu escritório de trabalho, um outro pode estar na Bahia ou Santa Catarina, até no Japão (se resistir ao fuso horário...). Aprende-se muito. A partir daí, penso que devemos disputar a internet, como também devíamos ter disputado o telégrafo ou a radiodifusão. Mas não é a internet que está moldando ou vai moldar a sociedade. É a sociedade, no bojo da luta de classes, que decidirá os rumos da internet. Sem essa consciência, a internet será aquilo que o capital quer que ela seja: um meio para acelerar negócios e, se necessário, de controle social. É fundamental disputar a democracia na internet, mas o discurso apologético acrítico conduz ao idealismo e não leva a nada realmente transformador.

Vermelho - No governo Lula foram poucos os avanços na comunicação. Em relação a esta área, qual a sua expectativa em relação ao governo Dilma?
MD: Eu sou moderadamente otimista. Eu acho que é uma mudança grande colocar o Paulo Bernardo no Ministério das Comunicações. Mostra que esse Ministério terá no governo Dilma, uma dimensão estratégica que infelizmente não teve no governo Lula.

A questão é: qual roteiro vai seguir?

Ainda não ouvimos uma declaração programática do ministro. Ele parece estar, aqui e ali, soltando umas ideias para sentir como repercute. Pelo que está dito, banda larga e marco regulatório serão suas principais preocupações. Sobre a política de banda larga, sabemos o que o governo Lula deixou. Sobre o marco regulatório, sabemos que o governo Lula deixou algo, mas não sabemos o quê. Mas, sobre qualquer coisa, como o ministro integra o “núcleo duro” do governo, as decisões serão de governo, isto é, serão firmes, consistentes, duradouras (ao contrário, por exemplo, das decisões sobre TV digital no governo Lula), mas ainda não dá para termos clareza sobre os rumos.

No momento, a sensação que eu tenho é que o ministro Paulo Bernardo está ouvindo a todos. Isso é muito positivo, mas isso é uma característica do PT: ele ouve as forças políticas sociais, escuta o movimento social. O movimento popular tem um canal de interlocução. Mas não podemos esquecer que as comunicações envolvem interesses poderosos, o ministro também está ouvindo e não pode deixar de ouvir essas outras forças. O empresariado chega lá com propostas muito concretas, com temas objetivos. O movimento popular costuma chegar com bandeiras. Agora é hora de propostas, e propostas factíveis. É um cabo de guerra e não dá para saber ainda quem vai levar vantagem nisso.

Vermelho - Do ponto de vista da luta pela democratização da mídia, qual o tema mais importante hoje no Governo Dilma?
MD: Sem dúvida, o marco regulatório é o debate mais importante. Todo mundo sabe, acho que isso já é consenso, que há um caos normativo no Brasil hoje em dia. Precisamos de uma legislação que contemple os avanços econômicos e tecnológicos dos últimos anos mas, ao mesmo tempo, introduza princípios democráticos e públicos. Toda reforma normativa no mundo tem sido feita em detrimento dos interesses públicos, conduzida pelas forças do capital. O Brasil, por suas características econômicas e políticas, poderia inovar aí, dando algumas aulas ao mundo. Mas isto vai necessitar, inclusive, de construção teórica, não apenas jurídica. Ao contrário do governo Lula, trata-se justamente de não fazer o óbvio.

Vermelho - No que consiste, a seu ver, a principal contradição entre as teles (empresas de telecomunicação como Oi, Telefônica, Sky) e as radiodifusoras (Globo, Bandeirantes, etc.).
MD: A principal contradição é a própria mudança no padrão de acumulação nas comunicações. Há um modelo decadente, esse da radiodifusão aberta, e outro ascendente, o dos “jardins murados”. Aquele se apoia na escassez de espectro, verdade até os anos 1970. Este se apoia no espectro ilimitado, na multiplicação ad infinitum de canais audiovisuais, no cabo, na atmosfera, no satélite, graças às tecnologias digitais. Se o objetivo é o lucro e se o lucro está na produção e programação de conteúdos, a apropriação desse lucro só é possível através de um novo modelo de negócios, baseado na assinatura ou no pagamento direto por serviço (pay per view).

Aí entram as teles: elas controlam a bilheteria de acesso aos “jardins”. Não é somente Oi ou Telefônica. As operadoras de celular estão vendendo conteúdo e somente conteúdo, elas não prestam mais um mero serviço telefônico. No entanto, são reguladas como operadoras de telecomunicações, não como provedoras de audiovisual. O problema dos radiodifusores é a ameaça de migração da audiência, da TV aberta para a TV por assinatura e internet.

O que acontece em todo o mundo mostra que essa TV aberta, generalista, que foi dominante na maior parte do século passado, está em decadência. No entanto, esse sistema, porque se apoiava num recurso escasso, era definido como serviço público, era publicamente regulado, dava ao Estado e à sociedade, nem que fosse teoricamente, um certo poder para influenciar nas elaboração de regras, inclusive regras quanto à missão cultural e educacional dos produtores e programadores. Por isso, temos os artigos da nossa Constituição.

Já os “jardins murados” são completamente controlados pelo capital financeiro. São vistos como investimento privado e externo a controles públicos. Assim, todos os princípios culturais, educacionais, éticos que devem condicionar a produção e programação de conteúdos deixam de estar subordinados a qualquer regulação pública. Isso virou um negócio exclusivamente privado. Se o movimento popular e democrático quiser intervir nessa situação tem que denunciar essa lógica e propor normas alternativas. Este é o nosso grande desafio. A cultura, a produção audiovisual e o entretenimento precisam continuar a ser regulados por critérios públicos, não importa se nos sete canais do VHF ou nos 300 canais do satélite.

Vermelho - Qual seria então, a principal bandeira?
MD: A minha proposta, considerando a atual correlação de forças, é estabelecer uma rígida separação entre quem transporta o sinal e quem produz ou programa o conteúdo. É até possível defender isso porque é algo parecido com o modelo inglês e da maior parte dos países europeus. Na Grã-Bretanha, a BBC não é “dona” da frequência de transmissão. A transmissão é feita por uma empresa operadora, contratada por licitação, de nome Crown Castle.

Essa separação, tanto no ar, quanto no cabo ou no satélite, permite que você defina regras assegurando o uso das vias também pelos produtores público-estatais e pelos demais agentes não-comerciais (sindicatos, associações comunitárias, etc.). E permite multiplicar as vias para os canais comerciais, abrindo espaço também para pequenos negócios regionais e locais. Na outra ponta, a produção e a programação poderão ser alvo de regulação própria, nelas aplicando-se os princípios da nossa Constituição. Trata-se de acabar com essa divisão “radiodifusão”/“telecomunicações”, introduzindo outra, mais adequada aos novos tempos, “conteúdo”/“continente”.

Vermelho - O Ministério das Comunicações vem dando grande destaque ao Plano Nacional de Banda Larga. Do que até agora tem sido divulgado, qual sua opinião sobre o PNBL?
MD: Com todo o respeito ao César Alvarez (secretário-executivo do Ministério das Comunicações e um dos principais formuladores do PNBL) e ao Rogério Santana (presidente da Telebrás), eu tenho sido um crítico desse plano. Não somente porque 512 kbps não é verdadeiramente banda larga. É a sua própria concepção que eu critico. Vai se repetir aí o que já acontece em outros serviços, no Brasil: uma solução ruim para os pobres e outra, mais ou menos boa, para quem pode pagar. É a mesma coisa na educação, na saúde... Quem puder pagar para ter a banda larga da Oi, da Telefônica, da Net, da TIM, vai continuar pagando, quem não puder, mas tiver pelo menos 30 reais sobrando por mês, contente-se com 512 kbps.

Precisamos entender que a banda larga, por ar, cabo ou satélite será a futura infraestrutura de comunicação. O telefone de par trançado, o telefone fixo que só serve para voz ou fax, vai desaparecer daqui a pouco. Pela banda larga vai passar internet e televisão digital. Por isso, essa infraestrutura precisa ser universalizada. Isto não é o mesmo que massificar. Massificar significa estender o serviço ao máximo para quem pode pagar. Universalizar é determinar que, ao cabo de um certo período de tempo, digamos cinco anos, dez anos, com investimento público ou privado, dentro de um cronograma de médio e longo prazos, todos e todas terão direito à banda larga, conforme um determinado padrão de qualidade e por um certo preço regulado.

O governo, nos termos da lei atual, precisaria criar um serviço em regime público. A Conferência Nacional de Comunicações defendeu isso, com voto até do empresariado. Até do ponto de vista político-filosófico, trata-se de resgatar o princípio do serviço público, como eu discuti mais em cima. É isso que se espera de um governo de esquerda.

Vermelho - Como você vê o desenvolvimento futuro de uma mídia contra-hegemônica?
MD: Você está falando de imprensa ou de “mídia”? Se “mídia”, isto engloba notícia, cultura, entretenimento, etc. Você quer um jornal para ser lido somente pela vanguarda, ou que tenha expressão na massa? Você quer um canal de TV que nem quem faz assiste, ou um canal para qualquer dona de casa assistir? A única vez que o nosso país contou com um poderoso jornal contra-hegemônico foi no governo Getúlio Vargas, que bancou a Última Hora. Como tinha dinheiro, a Última Hora pôde contratar os melhores profissionais da época.

Última Hora era um jornal igual aos outros: tinha esportes, polícia, espetáculos, coluna social, coluna de mulher “boa” (que fez a fama do Stanislaw Ponte Preta), tudo o que um jornal tem que ter para atrair o leitor comum, o leitor que não põe a política no primeiro lugar das suas preocupações, exceto em dia de eleições. Sem preconceitos. Ou com todos os preconceitos, se quiserem... (risos) Como era muito bem feito, foi um sucesso. Alcançou tiragens maiores do que os outros grandes jornais da época. Entretanto, o seu noticiário “sério”, vamos dizer assim, destoava do resto.

Na política e na economia (esta, à época, pouco importante no jornalismo), dava destaque para as notícias que interessavam ao governo e às forças que o apoiavam. Suas manchetes, títulos e lides, ou seja a técnica jornalística, eram usados para valorizar o que o restante da imprensa queria desvalorizar, para noticiar o que o restante da imprensa gostaria de esconder.

No entanto, apesar da sua enorme audiência, logo influência na formação da opinião pública, o jornal nunca foi um sucesso financeiro. Os grandes anunciantes o boicotavam. Sempre dependeu do apoio do governo e de alguns empresários que sustentavam a política de Vargas. Com o golpe de 1964, não demoraria a acabar. Talvez, hoje, com um governo de esquerda e, além disso, com os recursos que os sindicatos possuem, além de algumas alianças empresariais que podem ser feitas, talvez fosse possível edificar um jornal assim, ou melhor, um canal de TV assim, ou melhor ainda, um portal de internet assim, ou até tudo ao mesmo tempo, agora. No entanto, considerando as práticas corporativas dominantes, a mesquinharia da pequena política, o amadorismo, não vislumbro muito essa possibilidade no Brasil atual.

Vamos ter que continuar convivendo com jornais, revistas, sítios de internet feitos por nós para nós mesmos. Alguns até são bons, mas mesmo estes são mais opinativos do que informativos. O cidadão comum quer informação, mesmo que com algum tempero de opinião. Pode ser informação sobre a reunião ministerial de ontem, sobre o treino do Ronaldinho, sobre o paredão do BBB (arghh!!) ou sobre uma boa receita para o almoço de domingo, sem falar de filmes e espetáculos em cartaz. É informação que vende jornal, atrai audiência para a TV. Se quisermos construir uma mídia alternativa, temos que perder essa mania de ter opinião formada sobre tudo... (risos)

Vermelho - Para terminar, Dilma vai ou não enfrentar a mídia hegemônica?
MD: Coragem ela tem. É determinada, racional. Mas, no governo, sabemos que pode não ser interessante acirrar os ânimos, muito menos agora, quando ela mal começou. Ela precisa de certa estabilidade. E precisa de apoio político. Na Argentina, Cristina Kirchner pôde fazer uma nova lei democrática, não porque vivia às turras com El Clarin, mas porque tinha povo na rua (eu disse, na rua, não no Twitter) e maioria real, não fisiológica, no Parlamento. Penso que a presidenta não colocou Paulo Bernardo no Ministério das Comunicações, à toa.

O governo terá uma política de governo, não de ministro, como era no tempo de Lula. Quero acreditar que ela, com o seu ministro, vai conduzir um reordenamento muito importante nas comunicações. O resultado vai depender de como o movimento popular vai conseguir intervir. Temos boas condições de formular propostas construtivas para ajudar o governo a enfrentar essa batalha mas, acho, que ainda falta melhor organização no nosso campo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Brasil não merece o Big Brother

Esse programa supera tudo o mais que há de ruim na tevê. Sobretudo por seu alcance, mas também pelos exemplos de lassidão dos costumes, do comportamento em sociedade. É um pisotear incessante de valores elevados que a tevê deveria difundir, mesmo que seja por sua condição de concessão pública.

- Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

Estou na sala de estar de casa com a esposa e a neta, de dez anos. Na tela da tevê, um rapagão de quase dois metros de altura e uma garota gorduchinha, ambos lá pelos vinte e poucos anos, protagonizam uma cena lamentável. Insultam-se, dizem palavrões e têm espasmos de verdadeira histeria, com berros assustadores e gritos ininteligíveis.

Precisam ser contidos por outro casal, que parece achar que se atracarão aos socos e pontapés. As imagens confirmam a percepção. Choca um pouco o pensamento de que o rapaz a agrediria – e talvez ela a ele – se não estivessem na tevê, mesmo que pareça que estão prestes a esquecer disso e partirem para as vias de fato.

Digo à minha esposa que não concordo com que a minha neta assista ao programa. E que ela mesma não deveria. Estão se divertindo, porém. Acreditam que é inofensivo. Dizem que já vão desligar, enquanto riem do que vêem.

Não posso culpá-las. Não há nada melhor na tevê aberta e acabaram de lavar a louça do jantar. Estão naquele momento em que as pessoas só querem relaxar e tirar a mente de qualquer coisa séria.

Dirão que é uma deficiência educacional com a minha neta, mas todos sabem que essa é a realidade de milhões e milhões de famílias de todas as classes sociais e regiões do país. Além do que, proibir jovens de fazer alguma coisa só funciona enquanto estão sob os nossos olhares vigilantes. Há que convencê-los do que não devem fazer. E estou tentando, mas não é fácil.

Na escola da minha neta, colegas discutem animadamente sobre o Big Brother Brasil; a enfermeira que cuida da minha filha caçula, moça simples que veio da Bahia sem nada, batalhou e rompeu com a lógica dessas garotas do Nordeste que vinham para São Paulo e se tornavam empregadas domésticas automaticamente, também adora.

A enfermeira já se tornou parte da família. Às vezes até dorme em casa, quando eu e minha mulher temos que sair cedo para o nosso escritório no dia seguinte. Ela adora o BBB. Torce por um dos rapazes marombados e desprovidos de neurônios, que considera “lindo”. Tem 24 anos. É uma moça simples, esforçada, honesta. E minha mulher acha ótimo terem o programa para discutir.

Poderiam discutir uma boa teledramaturgia, por exemplo. Não precisaria ser esse lixo. Mas como não lhes oferecem coisa melhor, então “se viram” com o que têm.

Isso ocorre na residência de um ativista político de esquerda que desde que seus quatro filhos – sendo três deles adultos, hoje – eram bebês prega contra a baixaria na tevê e se dedica à causa da melhora da comunicação no Brasil. Imaginem o que acontece em famílias sem influência política ou intelectual…

Porque é inevitável. É “isso” o que temos na tevê aberta, no Brasil. Baixaria, vulgarização do sexo, bebedeira, ódio, mesquinhez, violência, inveja, desonestidade. Esses são os valores que a tevê aberta, um direito e uma propriedade da cidadania, incute em nossa juventude, em nossa infância e até em faixas etárias mais maduras.

Esse programa, porém, supera tudo o mais que há de ruim na tevê. Sobretudo por seu alcance, mas também pelos exemplos de lassidão dos costumes, do comportamento em sociedade. É um pisotear incessante de valores elevados que a tevê deveria difundir, mesmo que seja por sua condição de concessão pública.

O cinema ou o teatro que as tevês exibem, por exemplo, via de regra, mesmo exibindo comportamentos inaceitáveis, sempre terminam oferecendo a premissa de que o mau comportamento não compensa e de que tem um preço. Programas como o BBB, não. Aqueles dois ignorantes que discutiam com aquela virulência, ganham pelo que fazem. Nem que seja fama.

Quanto daquilo ficará na alma da minha neta? Que influência assistir a esse tipo de comportamento terá nas mentes mais simples? É liberdade de expressão vender a idiotia, a covardia, os maus instintos todos como características de jovens “descolados”?

O país suporta passivamente essa bofetada em sua face em que se consiste cada programa Big Brother Brasil, ano após ano. E, com a queda de audiência no Brasil de um programa que deixou de ser exibido no resto do mundo por falta justamente de audiência, pode-se prever que a apelação da Globo só fará aumentar.

E não há uma mísera autoridade que diga um A.